terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Feliz Ano Velho






"Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."

Carlos Drummond de Andrade - Receita de Ano novo.



Os anos pares sempre foram tão bons pra mim.
Nunca me perguntei porque sempre escolhi o número 10 em jogos de mágico, em escolha de camisa, em jogo da Mega Sena.
O calendário novo foi posto em cima do criado mudo dias depois que o ano novo começou.
E as datas foram marcadas, como era de costume.
Quando vi, esquecia de riscar, marcava errado, rasurava, escrevia por cima.
Os dias ganharam autonomia sobre mim, eu já não controlava mais esse ano.
Vem, calendário novo...
mas antes
vou jogar fora a minha caneta velha.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Cigarros no paraíso.





Para o Sheep.


Se você morasse na rua de cima
eu passaria na padaria e compraria uns cigarros pra você
só pra ver seus olhinhos verdes ficarem maiores por trás dos óculos redondos.
Você me diz que eu tenho medo de saber das coisas
e eu nunca sei se me levas a sério ou não.
Mas eu gosto de ouvir você elevar a voz no final de casa frase
pelo simples prazer de pensar do seu lado.
E você me pergunta: “Eu quero saber o que é o amor?”
eu dou uma resposta simples, você finge que aceita
e depois me desenha tomando sorvete.
Eu digo hoje que eu aprendi a te amar
sem saber ainda o que isso quer dizer
e - pra sua decepção – sem querer saber o que isso quer dizer.
Você não mora na rua de cima
nem na rua de baixo
você mora dentro de mim
dentro desse coração aflito
que desenha ovelhas na parede
e chora
ao lembrar do abraço magro que faz o mundo ser tão confuso
e ao mesmo tempo
tão maravilhoso.
Me dá um cigarro
e vamos andar de mãos dados no nosso paraíso.
O cristo nos espera
de costas.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vai passar.





As pessoas mudam após tantas conversas no carro antes de entrar em casa
Me reconhecer já não basta, é preciso me conhecer realmente e parar de fingir liberdade sem explicação.
E então você se olha no espelho e se pergunta: “Não, eu não consigo acreditar quando você me diz que eu sou bonita.”
Como se a beleza fosse medida pelo comprimento do cabelo
e eu acabei de cortar os meus.
E eu quero jogar todos os meus traumas em forma de flores no mar
para ver se eles se afogam junto com o medo de nadar
mas as ondas voltam mais fortes e não tenho força nas pernas.
Não mais.
Você vê que seu romance não tem começo, meio e fim
quando bebeu a noite passada e esqueceu de escrever.
Criar e tentar dar um pouco de emoção pra alguém
só para receber aquele orgulho que nunca achou que ia ter.
Mas as tentativas falham após bastante preparação
como uma prova fácil que deixa a sala inteira de recuperação.
O tempo é o melhor remédio, mas eu nem to doente.
Só com o colesterol um pouco alto após tanto tédio faminto
A primavera foi embora e ainda pode voltar
mas eu acabei pisando nas flores que caíram
e não tenho altura o suficiente para alcançar as que ainda são bonitas.
E nem mais visão.
O que te aflige tanto, minha menina?
Não ter mais pavor do escuro,
mas medo de dormir sozinha.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Olhai os lírios do campo.



“Por trás da cortina
além da porta errada
silencioso e só está sentado
e lê, num livro velho,
a sua própria história.”

Manuel de Castro.


Na minha casa, por trás da cortina, além da porta errada, tem um jardim muito agradável. Engraçado como no campos as horas passam devagar, sinto que é proposital, eu odiava tudo relacionado ao campo e agora estou aqui.
Hoje eu arrumava o armário quando me deparei com o meu uniforme de trabalho. Faz 24 anos que não sentia nas mãos aquele tecido bonito, resistente, verde. Resolvi lavá-lo. Enquanto estava na máquina, fui até o baú e peguei um livro velho para passar o tempo, com um silêncio perturbador e totalmente sozinho, comecei a ler.
Aquelas linhas eram recordações íntimas. Lembrei-me de como cresci rápido e forte. Eu era jovem e tinha tudo pra dar certo. Graças aos meus antepassados que -diga-se de passagem- eram poderosos, muitos tinham um certo receio de mim. Apesar de novo, era extremamente inteligente e, por isso, desde cedo fui irresponsável. Quanta imaturidade!
De repente, me vi com 20 anos novamente em meados dos anos 50. Naquela época eu já estava inserido no ramo da política, ainda tímido, só observando. Alguns parentes, em outros tempos e em outros países, já tinham o poder a que eu almejava, porém, ainda não era a minha hora...eu, paciente, esperei. Estava perto de conseguir a glória absoluta: ser presidente do Brasil.
Quando Juscelino deixou o cargo, eu já estava muito ansioso, mas, mesmo assim, Jânio me segurou. Ele não gostava de mim e pra falar a verdade eu o odiava. Essas picuinhas de jovem não respeitar os mais velhos. Ele sabia da minha força e por puro medo resolveu renunciar. Eu deveria ter agradecido o fato dele não ter falado que fui o motivo da renúncia.
Em 1964, Jango desceu do palanque, mas eu esperei um pouco para subir, ainda queria me certificar de que fizera a escolha certa.
Por 20 anos achei que sim, na minha ânsia de conquistar tudo e todos, não escutei ninguém. Tinha muitos amigos e confiei neles, muita ingenuidade da minha parte. Peguei esse lugar como algo a que me pertencia, como esse jardim que vejo na minha frente agora, só que em vez de cuidar desses lírios, simplesmente deixei que cuidassem por mim. Só dava ordens.
Dessa escolha de deixar o vento levar as coisas é que me arrependo. Estava cego e fui distribuindo o meu poder como o tio da padaria que distribui balas de troco.
Recordo-me bem quando Costa e Silva – uma das crianças que pegou as balas – morreu. Ele disse algo assim: “Deixei um presente pra você, use-o bem.”
No entanto, eu não era muito trabalhador e – como sempre – dei o presente para uma outra “criança”. O menino Emílio pegou praticamente todos os meus doces e fez esse presente render. A essa altura eu já estava um pouco cansado, mas, com aquela visão de que ainda reinava. Tinha muita gente contra mim, principalmente os jovens, que escreviam em faixas que eu tinha que sair do poder, paravam na minha janela e jogavam tomates – como se fosse adiantar alguma coisa toda essa revolta. Uma garoto fez uma música e chegou a falar nela que eu inventei o pecado! Imagina, logo eu, que sempre fui tão devoto a família e aos bons costumes...Mandei-o calar a boca e o fiz ficar na Itália até segunda ordem. Um outro homem com voz bonita disse que eu “ensinava a viver sem razão”. Na época achei uma bobagem. A educação nunca esteve tão boa. Mandei-o para um prédio no centro de São Paulo para aprender a não falar mentiras. Se pudesse, pediria desculpas hoje, mas não posso. Ainda bem.
No final de 79, eu já estava velho. Meu irmão Ernesto – que pegou bala até demais- me deixou mal na praça ao pedir tanto dinheiro para os meus desejos. Desejos esses que eu tinha por pura teimosia.
Então, uns 6 anos depois eu já não tinha pra onde ir e mandei fechar minha padaria. Resolvi sair do poder e apenas descansar, ou me arrepender. Toda vez que atravesso a porta errada e saio nesse jardim, penso em como seria se desde o começo eu tivesse entrado na “porta certa”.
Não casei, mas tive filhos de desconhecidas por aí. Coitados daqueles que tem o meu sangue. Eles não tem meu sobrenome, até porque não tive nomes, só apelidos.
Não gosto de ler esses livros, já me lembro muito dessa época quando durmo.
Acho que meu uniforme já está lavado. Vou colocá-lo para secar nesse jardim, cheio de lírios.

Natália Sanches – Junho de 2009.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sum(v)ida.




Sumir é sempre uma boa fuga.
Te obriga a viver uma vida independente e sem sofrimento
pelo menos para os outros.
Ninguém precisa saber que você está triste e nem o que irá fazer no final de semana.
Quando você some, a solidão parece uma boa amiga
e você se sente feliz por não fazer ninguém chorar.
Imaginar como será ou como está sendo é só imaginar
porque você simplesmente não precisa comprovar nada.
Não precisa concordar
não precisa responder
Sumir é acordar a hora que quiser e não precisar ouvir “bom dia”
e mesmo assim ter um dia bom.
E você vive sem certeza alguma,
não é preciso ter certeza
porque se não der certo, tudo bem.
Quando você some, você escuta mais música
porque elas conversam mais, elas atravessam os ruídos comuns
elas falam o que você quer ouvir,
e você começa a fumar, a beber
e ninguém te repreende por isso
porque ninguém mais sabe de você e da sua vida
e o melhor,
você escolheu ser assim.
Até o dia em que numa esquina qualquer, se você estiver a pé
ou em um domingo no parque,se você tiver um violão
o motivo do seu sumiço resolve aparecer.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Deux voador.




Era pra eu ficar agitada assim?
Você disse que nem ia aparecer hoje
Ah, você trouxe aquele presente mesmo...
Bom bom, agora eu vou me sentir muito bem.
Agora eu vou ser feliz.

Eu persisto, eu persisto sim
nessa boca bonita que você tem.
Eu persisto, eu persisto sim
quem mandou ser tão lindo assim ?

Ah, eu estou com uma dorzinha de cabeça
Não Não, não é culpa sua.
Para de falar e me dá mais presente
Eu te vejo na montanha
você acena pra mim e eu aceno de volta.
“Oi, vem aqui me buscar!”

Eu persisto, eu persisto sim
nessa loucura toda de me perder.
Eu persisto, eu persisto sim
hoje eu ganho você, garoto.

Ain, eu to com vontade de dormir, mas nem quero
Por que a parede tá mais perto de mim?
Ain, droga, bati o meu joelho de novo.
Minha mãe não pode saber, não pode.
Vamos brincar?

Eu persisto, eu persisto sim.
Nesse banho de chuva que congela o osso
Eu persisto, eu persisto sim
em sair correndo livre cantando por aí.

Nossa, que claridade é essa?
Você dormiu do meu lado mesmo?
Tem café ou chocolate por aí?
Ain, tá me dando uma tremedeira estranha.
Me dá mais presente, por favor, eu to tremendo.
Eu to tremendo.

Eu persisto, eu persisto sim
o final de semana vai chegar e eu já sei onde eu vou
Mas eu estou vivendo aqui, fazendo vida aqui
Eu estou com todos os meus amigos aqui
É um pecado, Deux Ex Machina
Estar feliz?


*Inspirado na música "Pale Blue Eyes" do Velvet Underground

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Casa Nova





-Mãe, cadê o papai?
-Oh, meu amor, ele ainda está viajando.
-Mas mãe, já faz um tempão que ele viajou...
-Eu sei, minha linda, mas ele não volta mais, entende?
-Mamãe,eu quero ver o pai.
-Filha, você quer passear? A gente pode ir naquele parque que você gosta.
-O papai vai ta lá?
-Não, amor, seu pai não vai tá lá.
-Não quero ir, mamãe. Onde o pai tá?
-Filha, você quer falar com o papai? Você pode falar com o papai, só não dá pra ver ele, entendeu?
-Entendi. Eu vou ligar pra ele, mamãe?
-Ai, Meu Deus. Faz assim, olha para o céu e fala com o seu pai que ele vai ouvir.
-Mãe, quem tá no céu é o papai do céu, não o meu pai.
-Filha, ele tá junto com o papai do céu.
-Mãe, ele não vai escutar...o céu é muito longe, mamãe.
-Vai sim, filha.
-Se eu pedir pra ele voltar, ele volta, mãe?
-Minha linda, ele não volta mais, ele agora mora lá.
-Mamãe, céu não é casa, mãe.
-Filha...só acredita em mim,tá? Por favor.
A filha olha para a mãe desconfiada, suas mãos escorregam e param na corrente da mãe.
-Mãe, por que você usa o seu colar?
-Ah, filha, foi aqui que o papai do céu morreu, sabe? Ele morreu para ir para o céu e cuidar de todos nós.
-Que nem o papai? Porque você falou que ele tá do lado dele...
A mãe ficou com medo e percebeu o que fizera. Sentiu alivio e ao mesmo tempo medo por não saber como a filha reagiria.
-Mãe, então eu quero morrer também, porque eu quero ver o papai, mamãe.
-Não fala isso, filha. Você ainda tem muito o que viver, meu amor...
-O papai não tinha mais o que viver?
-Filha...
-Mãe, eu quero ver o papai, mãe. Dexa eu ver o papai, mãe.
A menina começa a chorar compulsivamente. A mãe a coloca no colo e tenta acalmá-la. Com o tempo, ela acaba adormecendo.
Seria difícil acostumar a filha a não ver o pai. Ela ia crescer e aos poucos perceber que a saudade não iria cessar, a saudade só seria esquecida.
Um dia você acorda e percebe a ausência em pequenos detalhes.
É hora do almoço e o telefone não tocou. Já escureceu e só tem um prato na mesa. A cama parece maior do que é e você espera o barulhinho da chave aparecer, mas a porta não abre.
Fazer falta. Sentir falta. Chorar pela falta que faz.
A morte dos outros te obriga a viver.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Espera.






Se o que eu quero ainda não tem nome
será que pode ter sentido?
Se tudo aquilo tem definição
e eu não sei definir
é válido para eu sentir?
Se a música só tem a letra bonita
Vale pena ouvir a melodia?
Eu também sei disfarçar força e superação
mas escondido as coisas são muito mais fáceis
e eu choro quando ninguém tá me olhando.
eu esqueci o assunto principal desse poema
e resolvi improvisar com palavras bonitas
mas você sempre falou que eu não sei escrever.
Os tempos estão mudando
a saudade diminui quando o celular toca
sem saber que celular acaba bateria
e a saudade volta de novo.
Sem saber que só a morte
faz a saudade descansar.
É por isso que eu não atravesso na faixa
e tenho anjo da guarda.
Se o que eu quero ainda não tem nome
vale a pena eu batizar?
Se a gente acorda todo dia
vale a pena sonhar?
Se é pra ser feliz
a gente tenta.
Sem saber que a vida é só uma espera
pra aquele anjo um dia
poder dormir em paz.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Década ganha.






Amanhã é meu aniversário.
É engraçado você nascer ( e aí, fazer aniversário) no último mês de uma década.
É como um calouro na faculdade e um aluno do terceiro ano do ensino médio.
Você acha que carrega toda uma experiência de uma geração e ao mesmo tempo rola aquela esperança de começar algo novo de um jeito diferente.
Foi assim que eu me senti com 20 anos.
Uma caloura com experiência...
Com 20 anos eu ganhei tinta no meu rosto mais uma vez
e uma seriedade impressionante, necessária e prazerosa.
Com 20 anos eu não queria perder tempo
achava que minha vida poderia acabar a qualquer momento
e minha solidão me fez bem por alguns dias.
Com 20 anos eu ganhei brilho nos meus olhos secos
por ver todos aqueles prédios fascinantes
refletindo na podridão do Rio Pinheiros.
Com 20 anos eu ganhei um novo sonho realizado
o maior espetáculo do mundo em um estádio de futebol
e eu esperei o exato momento
para ser livre
E fui.
Com 20 anos minha carteira ganhou mais volume
de dinheiro, claro...
mas de contas também.
Com 20 anos minhas broncas se misturavam com sorrisos
porque apesar de toda postura
eu me derreto quando me pedem um abraço.
Com 20 anos eu ganhei o som de palavras conhecidas em lábios mais conhecidos ainda
a mesma boca que lê é a mesma que canta
e se eu posso ver,
eu reparei em você...
Com 20 anos eu ganhei um susto feliz
aquele mundo imaginário realmente existe
e eu frequento ele toda noite de segunda a quinta.
Com 20 anos eu ganhei no meu pescoço
a maravilha de uma amizade infinita
Ainda sinto o abraço apertado delas
Com 20 anos eu vi meu urso angustiado ir embora
sem saber que levou uma parte minha com ele
e que a eternidade não deixa esquecer.
Com 20 anos eu voei entre as nuvens
eu dormi entre as nuvens
eu olhei as nuvens de perto
eu quis pular, só para ver se elas iam me segurar.
Com 20 anos eu ganhei o sonho de quem gosta de fazer música
a mesma música que aparece no crepúsculo
de um fim de tarde.
Com 20 anos eu vi o amor que me criou
sentado no sofá de mãos dadas
há quase 30 anos.
Com 20 anos eu dormia tarde e acordava cedo
não dava nem tempo de sonhar.
E eu comprei um relógio para não me atrasar
E meu corpo emagreceu de tanto correr
Uma corrida contra o tempo.
Com 20 anos eu ganhei LOUCOS
Já não posso viver longe deles de tanto amor que eu sinto...
Com 20 anos eu ganhei roupas masculinas
para dançar feito menina
e aceitar as pessoas lindas como elas realmente são.
Com 20 anos eu ganhei um coração aflito
por cada noite esquecida
sem querer.
Com 20 anos eu acordei ao som de sinos de igreja
me apaixonei por sentir paz pela primeira vez
conheci um anjo negro que gosta de café.
E fui embora com a certeza de que sempre posso voltar.
Com 20 anos, eu ganhei força e coragem para cantar as mudanças.
Podem falar que é a década perdida.
Pois eu digo que foi com 20 anos
Eu só ganhei.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Eu só sei.




No fundo, todo homem quer a mesma coisa:
Uma mulher bonitinha que prepare um jantar gostoso e espere ele chegar do trabalho em casa com o pijama passado em cima da cama.
A mesma mulher burrinha que passa a tarde no supermercado escolhendo a dedo o melhor queijo para servir no café da manhã antes de ver seu lindo marido combinar a meia com o sapato e abrir a porta para mais um dia cansativo de trabalho.
Não estou generalizando, só comecei a observar você após eu fazer coisas desse tipo.
Ou comecei a ler muitos livros (escondida) sobre o assunto.
Homem é filho da puta.
Porque quando sua mulher está em casa, ele não precisa avisar que chegará tarde.
Talvez não avise de propósito só pra ver a coitada dormindo de camisolinha com o telefone do lado.
Agora, experimenta sair do nada para um passeio noturno só pra sentir o ar poluído com cheiro de chuva. Experimenta colocar um salto em dia de semana e comprar uma lingerie nova.
É capaz de ele levar trabalho pra casa ou te dar mais dinheiro pra você comprar um liquidificador novo.
Como eu sei tudo isso? Simples.
Comecei a observar você após eu fazer coisas desse tipo.
Homem se acha esperto.
Talvez por achar que a esposa não reparou no nome fantasia que apareceu às três horas da tarde de uma quinta-feira no extrato da conta do banco.
Ou por achar que a mulher acreditou na desculpa de que não era hálito de pinga, e sim culpa da azia. E ainda pedir pra fazer um chazinho.
Homem é burro.
Faz questão de quebrar o pescoço para ver uma bunda bonita
Compra rosas para pedir desculpas
Acredita em gemidos calminhos
e ronca alto sem perceber que a esposa ainda está acordada.
E depois de toda a droga pesada, de toda a infelicidade, de todo sexo ruim, de toda a vontade de fazer dar certo, de tentar mudar, de tentar mostrar pra ele que você pensa
Você percebe que vida boa é de quem controla os sentimentos.
Ou seja,
de quem não se apaixona.

sábado, 20 de novembro de 2010

Pensamentos de uma sexta-feira cansativa




Ah, se todos soubessem como a minha vida é confusa a medida que o sono não chega
Como se adiantasse alguma coisa eu vencer essa insônia e dormir por puro cansaço.
Não.
É preciso muito pouco para me fazer acordar de novo.
Obrigação gostosa e sensação de utilidade faz eu me achar super bem resolvida.
Bobagem.
Porque é preciso sentir cada segundo na pele para resolver bem a sua vida
e eu só sinto o suor que o relógio deixa no pulso.
Você chega em casa e escuta o silêncio em cada canto devidamente limpo
com a vontade de acender a luz só pra sentir o aroma que vai pairar no ar.
Tristeza é ver a noite bonita e não sair nem na sacada.
Felicidade é acordar, te ver dormindo e perceber que o despertador ainda nem tocou.
Eu tenho uma mania desgraçada de desejar abraços quando eu sei que eles não vão aparecer.
E aí eu fico olhando pra cima
como aluno que não sabe a resposta, mas tenta enxergar o triângulo no teto.
A falta de abraço vira busca incessante por aquelas frases que estão naquele livro que está naquela casa que eu não posso ir.
Necessidade absurda de tatuar na pele o caminho melodioso de soluções.
Acho que faço o certo sem saber se ele existe ou não.
O coração chega a doer porque tá batendo bem fraquinho mesmo sem toda aquela vodka.
Falo tanto do asfalto quente e cinza, mas nunca queimei meus pés por aqui.
Eu já sei o que você vai falar
do meu exílio voluntário
de como eu não faço poesia
você vai falar sobre como eu devo mudar
Eu quero é isso mesmo
Mudar
pra qualquer lugar
com alguém sem interrogações, só pra me dizer coisas do tipo:
“ Eu gosto do jeito como você é feliz com pouca coisa...
quer um chocolate?”
ou seria melhor ir sozinha, né?
Assim, eu não ficaria triste se esse alguém esquecesse de falar isso.
Mas já é final do mês e eu to sem dinheiro.
Então eu vou é ficar aqui mesmo
e fingir que não penso em você antes de dormir
e acordar antes de começar a sonhar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dia de sol.





Meus olhos míopes giravam mais que o normal
meu corpo de mulher dançava como dançarina de caixinha de música
meus cabelos soltos grudavam na minha nuca suada.
Meu sorriso radiante não se fechava.
Eu sentia que era a vez de me despedir daquelas perguntas, cujas respostas pareciam tão distantes.
Porque não tentar? Porque não fazer? Do que eu tinha medo?
Tinha medo de muitas coisas, visto que não sabia como ia ficar, ser ou fazer,
mas era hora de me despedir disso também.
Com um último aceno eu apaguei minhas convicções.
Minha consciência estava tão falha que minha fala virou sussurro suplicante
Meus olhos antes tão ativos se fixavam em pontos isolados, como se as paredes fossem desabar e cair em cima de mim.
E por mais que você falasse, eu não acreditava,
por um segundo eu ainda queria ter o controle das minhas atitudes.
Talvez pelo fato de ter sido traumatizada com tanta responsabilidade.
Parecia tão surreal ter alguém ali tão perto.
E eu fechava os olhos e ouvia vozes angelicais...
Morri? Sonho? É verdade? Cadê todo mundo?
O dia escureceu naquele quarto
e meu coração batia tão forte que eu jurava estar perto do sol
mas e o frio? Meu corpo inteiro pedindo por água, por calor, por paralisia.
Minha cabeça batia para todos os lados e eu me perguntava porque ela não parava.
Minhas pernas nuas e inquietas sentiam o piso congelante
e eu falava, sem saber se devia ou não, mas falava
Vergonha cretina que me matava a cada lágrima indigna
em meio a tantos calores e frios, as chuvas nos olhos, no rosto.
É essa a água que abençoa? Então eu morri mesmo?
E meu sorriso antes tão aberto se fechava em dores, principalmente do passado.
Malditas frases que me chicoteavam.
E por me ferirem, acabava respondendo para exorcizar essa dor.
De repente, a força cessou.
Não lembro como, não sei porque.
E eu tinha tanto medo de acordar, só ver o breu e sentir o cheiro de solidão
que gritava por você, para me ajudar, para não me deixar sozinha ali.
sem saber que não precisava nem gritar
só segurar a sua mão.
Era só deixar você cuidar de mim.
Fechei os olhos e quando abri novamente
já não era a mesma
me despedi com um adeus doído e necessário
e me senti “bem vinda”
após abrir todas aquelas janelas,
ver que era dia
e que o sol ainda vinha...
no meu jardim florido de domingo.

sábado, 30 de outubro de 2010

Pássaro Cinza




Já posso ouvir os pássaros cantando mesmo de noite.
Engraçado como em tão pouco tempo eu percebi que pessoas ilustres não são nada mais do que pessoas ilustres.
Eu não estou acostumada a ver tantas coisas bonitas assim, de uma vez só.
Cidade que não para também tem hora pra dormir e acordar e eu a vi bocejar com vontade hoje.
Como é possível eu estar aqui com o corpo, a alma e o coração e ao mesmo tempo sentir saudade boa?
Eu sei, são só hematomas, mas para mim e para um amigo meu que falou antes de mim, são marcas que te mostram que você está viva.
E a vida corre muito rápido aqui
com essa solidão(pelo que dizem) gostosa compartilhada.
E quem disse que isso é triste?
Let it Be
e que seja assim.

domingo, 24 de outubro de 2010

Herói





Se os tempos estão mudando e você me diz, com certeza, que é bom ser inseguro, não posso voltar atrás na época em que eu acreditava ser realmente feliz. Posso?
Eu não quero te ver com olhar vazio no corredor do amor eterno.
Não mesmo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Uma vez




A primeira vez que eu te vi
Eu achei melhor não cumprimentar de uma forma muito comum
A impressão inicial é a que fica e eu não queria parecer idiota.
E você me deu esse sorrisinho maroto
como quem diz: "não se preocupe, eu te achei bonitão"
e eu resolvi saber o seu signo e ascendente.

A segunda vez que eu te vi
Você resolveu se arrumar (como se precisasse)
colocou aquele brinco emprestado da sua mãe
e levou só a identidade e a carteirinha do estudante.
Sim, vc sabia que eu era um gentleman e que eu pagaria a conta.
Sério mesmo que vc se arrumou assim para me ver?

A terceira vez que eu te vi
Você me perguntou se eu tinha um sonho
Eu respondi que a falta de tempo não deixava
e nós dois rimos, pq sabíamos que não era verdade.
Eu peguei na sua mão bem devagar
e saímos pelas ruas do centro em busca de sorvete de rosas

A quarta vez que eu te vi
Ficamos umas 2 horas na fila embaixo do sol do meio dia
mas até que elas passaram correndo
A gente não conseguiu ver nada do show
e resolveu tomar um café da manhã pq já estava amanhecendo
Não queria te levar pra casa.

A quinta vez que eu te vi
você estava bem cansada e disse que não queria sair.
fui para praça sozinho pensando se acreditava ou não
aí, você me mandou uma mensagem dizendo:
"é bom sentir saudades suas"
e eu resolvi comprar seu refrigerante favorito.

A sexta vez que eu te vi
Você resolveu chegar na minha casa de surpresa
trouxe cachaça barata e um monte de copinho plástico
disse que tinha vergonha de me perguntar certas coisas
e me perguntou se eu queria brincar.
Presente de dia das crianças.

Na sétima vez que eu te vi
eu estava realmente bravo por vc ter saido da minha casa sem avisar
você me lançou um olhar triste e devolveu minha camiseta.
disse que ia sumir por um tempo
procupar um pouco de paz, fazer um pouco de vida
e eu chorei muito bem na sua frente.

Na oitava vez que eu te vi
Você estava com um vestido florido e sandálias simples
"comprei na feirinha do centro", vc disse com o sorriso bonito.
Você contou sobre a sua viagem, do sol nordestino, das suas chefes velhinhas
eu te contei do meu novo emprego, do meu repertório, da minha saudade
e você me deu um beijo tão bom, mesmo sendo calmo.

Na nona vez que eu te vi
você me acordou antes de ir embora.
Disse que precisava trabalhar, mas que voltava e trazia algo pro jantar
Era segunda e eu não precisava trabalhar
esperei você com o cachorro quente pronto
e dormi com a geladeira aberta.

Na última vez que eu te vi
você estava naquela mesma praça com uma criança no colo
sei que não era seu filho.
você devolveu a pequena para a mãe
passou a mão nos olhos e me viu.
Deu um tchau de longe e seguiu caminho.

Às vezes eu penso, querida
Queria te ver de novo
Para te perguntar o pq vc foi embora no feriado
só para dizer que eu sonhei com você
e que você sabe onde eu moro, como eu vivo, o que eu quero.
e só você aparecer.
se você querer.

Texto inspirado na música "Last time I saw you" do Vanguart.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Refletor.




Resolveu desligar o computador três horas, a televisão estava ligada sem som, como de costume, e ela estava bem feliz por ter o sofá só pra ela. Arranjou algo na geladeira (agora sempre cheia) e deu uma risada saudosa quando recordou os tempos de bolacha com margarina.
Foi para o sofá, ficou totalmente no escuro e andou até a sacada para afastar um pouco as cortinas. Disse inúmeras vezes como odiava cortina e mesmo assim sua mãe colocou. Pensou irritada: "Na minha casa vai ser diferente" Ou não, já que como filha, herdara todas as manias da mãe, até a de colocar a toalha de rosto da cor do azulejo para o banheiro de visitas.
Silêncio vazio. Em outros tempos começaria a chorar de saudade e pensar: "A essa hora eu estaria em algum bar jogando conversa fora" e choraria mais ainda por saber que não vivenciaria isso de novo tão cedo.
Mas dessa vez não, ela escolheu ficar em casa. Resolveu alugar aquele filme e comprar aquela barra enorme de chocolate para lembrar o porque ainda quer fazer disso sua razão.
Ela ainda gosta de combinar o brinco com a blusa, de textos femininos, de clima primaveril, mas sentia que algo estava diferente.
O relógio no pulso denunciava uma certa escravidão pelo tempo, o anel em forma de flor nos dedos com as unhas mal feitas, informava uma certa delicadeza mesmo com a revelação do feio, o tênis com sola deu lugar ao tênis sem sola, é mais seguro. Dura mais.
De repente, começou a se despir.
A blusa branca caiu para fora do sofá, a bermuda jeans caiu rapidamente nos pés, o sutiã e a calcinha, devagar, saíram de seu corpo, como se tivessem vida.
Agora, nua, a diferença não estava visível e acho que ao fazer isso, ela tinha uma intenção. Descobrir o que realmente estava diferente.
Ao fechar os olhos e lembrar de dias bonitos sem derramar uma simples lágrima, ela percebeu que não chorava mais, endureceu o suficiente para aceitar que lembranças fazem parte do passado.
Abriu os olhos e tentou não pensar em futuro, no passado e muito menos no presente. Amadureceu o suficiente para perceber que o tempo não tem culpa de nada. Aliás, é ele que a ajudou a parar de chorar, ou melhor, a falta dele.
Parar de sonhar ela não fez. Não conseguiria passar um dia sem imaginar sua casinha na praia...
Será que algo realmente mudou de fato?
Não.
Ainda esperava o dia em que alguém a tirasse daquele sofá e falasse, baixinho.
"Vamos dormir na cama."

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Dia de prova.




É possível perceber a falha através do olhar culpado de uma inocente atitude? Ajo com a melhor das intenções, apesar de não parecer. A falha não é intencional. Juro. Ah, se você soubesse o quanto eu penso, o quanto eu analiso antes de agir...e o quanto eu fico puta por dar tudo errado após tanta preparação. Não,não me venha com esse papo: "Faça sem pensar, siga seu coração." Hahaha, já passei da idade de ter emoções fortes.
O que eu quero provar para você? Que sobrevivo sem revoltas? Que parei de questionar? Que ainda sou difícil de compreender?
O que eu quero provar pra mim? Que essa dor é física? Que ainda sei escrever? Que você ainda gosta dos meus textos?
A verdade é que eu ando tão cansada...quando acordo, quero dormir. Quando durmo, preciso acordar. O que me mata de cansaço é a falta de motivo. E eu nem preciso de grandes motivos, basta um. Que ridículo ser assim, ficar triste por não saber o que está fazendo aqui.
Não preciso ficar aqui. Não estou nem pagando pra isso. Se pagasse, ele poderia fingir que sabe algo e eu poderia fingir que aprendo o mínimo. Aliás, aprendo mais no gramado do que aqui, mas vê o lado bom...hoje está chovendo lá fora.
E eu ainda tenho prova na quarta-feira.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dias Desvairados.





Quando eu espero o trem na estação, percebo como os meus dias passam rápido nesse lugar. É comum você ouvir os paulistanos falarem da correria, da falta de tempo. Pois eu digo que em São Paulo você não tem tempo para nada. Exceto para observar a cidade.
As linhas de trem têm nome de pedras preciosas, mas só me levam para os lugares mais carentes da cidade.
O mesmo jovem que deixa o velhinho sentar no assento preferencial no metrô é o mesmo que joga a bituca de cigarro no chão depois de entrar em vigor a Lei Anti Fumo
Falam que o shopping é a praia do Paulista, mas é só dar um feriadinho prolongado que a estrada fica engarrafada a caminho da praia.
É a cidade mais cultural do Brasil...e a que tem mais prédios também
Em uma esquina, o “Bar Brama”, que só para entrar custa 60 reais. Na outra esquina, a “Casa da Mortadela”, onde o prato mais caro não passa de 20.
Show de graça na Paulista e não tem mais ingresso 5 horas antes do espetáculo. Teatro com a peça do Fagundes por 100 reais esgotou no primeiro dia.
Tem roda de capoeira na frente de uma Galeria de ROCK.
A avenida mais famosa da cidade, tem o nome mais simples do mundo.
A cidade tem 456 anos e a sua Universidade só 76 anos.
E então, quando eu pego o metrô na linha verde, para pular para a linha azul e correr até a linha vermelha para pegar meu trem na linha turquesa, nesse aglomerado de cores, de pessoas, de climas, de segredos, de realidade, eu percebo como eu começo a não reparar mais tanto assim.
De visitante assustada, eu agora sou paulistana agitada.
E nesse ritmo de contradições, eu me sinto em casa.
Agora, São Paulo, eu passeio na tua garoa.
Agora, São Paulo, eu posso te curtir numa boa.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tem que ir.





Quando eu morar na Bahia
eu faço uma música pra você.
Aí, eu vou passar em uma praça agitada
e ver meninas com saias coloridas
vou chegar no muro com a cara do Lobato
e ver meninos sem chinelo
Vou até a praia
e verei casais fazendo amor sem perceber.
Eu vou voltar do trabalho toda atarefada
e chegarei em casa cansada
Ainda vou ter uma louça pra lavar
e uma criança para ninar.
e mesmo assim,
eu ainda escrevo algo pra você.
e pra você e pra você e pra você.
Vixi! Esqueci minha caneta e meu papel e minha doença
esqueci de compartilhar a felicidade alheia
esqueci de te deixar. que pena.
E o sol anda perfeito demais
e os meus olhos estão bonitos
Soltei o cabelo só pra ver ele voar
E no final do dia,
eu escuto a voz mansinha
a coberta fininha
e espero a minha cama
virar mar.

domingo, 5 de setembro de 2010

Antologia primaveril II




"Um beijo, flor do asfalto"
Já esqueci o que posso ou não posso esconder.
Você colocou aquela música para tocar
e fez das minhas costas, sua obra de arte.
Talvez eu deva me apaixonar
Acordar e escutar sinos de igreja
"-Porque o nosso amor nasce de novo a cada noite igual a essa."
o tempo não precisa mais passar.
ele pode parar.
Minha saída
É esperar.
E falar: “Você sempre soube, querido"
Você se apega a contos infantis
E chora ao ler uma frase feita de açúcar.
Eu só queria um mar na minha frente
Jogar fios do meu cabelo
Como colares para Iemanjá.
Fazer uma arte. Fazer um pouco de vida.
Vozes angelicais me fazem companhia
O sertão é amaldiçoado
Fiz as pazes com Deus
Apesar de tudo isso,
Eu quero amar mesmo assim.

sábado, 28 de agosto de 2010

Uma flor morreu na rua.




"Amou daquela vez como se fosse a última"
Chico Buarque - Construção.

- Olha lá o corpo estendido no chão. (Homem 1)
-Parece que foi atropelamento.( Mulher )
-Ah, mas ela atravessou na faixa.( Homem 2)
- Mais ou menos, vai, tava quase na faixa. (Homem 1)
- Ela devia ta com fone de ouvido. Esses jovens são tão distraídos (Mulher )
-Vamos chegar mais perto? (Homem 2)
- Vamo Vamo. Quem sabe a gente não ajuda, né? (Homem 1)
- Ou fica sabendo de mais alguma coisa, né? (Mulher)
O trio se junta a multidão ao redor do corpo adolescente. A menina desmaiada com a mochila nas costas tinha ferimentos nos braços e na cabeça. Usava uma blusa xadrez com um bottom preso nela com os dizeres: "All you need is love". Ela ainda estava com os fones de ouvido.
O motorista do ônibus estava desesperado , aos berros: "Eu não tive culpa! o farol tava aberto, ela atravessou fora da faixa. Ela achou que eu ia parar!"
-Nossa, ela era mocinha...(Mulher)
- Você imagina o sofrimento da mãe quando souber...(Homem 1)
- Mas ela ta morta? (Homem2)
- Ah, olha a quantidade de sangue que tem no asfalto, acho que morreu sim.(Mulher )
- Ah, mas a menina é grandona, olha. Deve aguentar o tranco, ser porreta. (Homem1)
-Mas é um ônibus, mano! Um ônibus. (Homem 2)
O resgate chegou e foi aquele alarde. Mandaram todo mundo se afastar, barulho de sirene. Carros parando. A menina atrapalhou o tráfego. Tiraram a mochila com cuidado e a jogaram próximo ao trio observador "Vê se tem algum documento aí". Gritou o moço de laranja.
- Vixi! Que mochila pesada! Nossa, quanto livro, véi! (Homem2)
- Olha o caderno dela! Ué, mas só tem texto pequeno...nossa, é poesia, olha. (Mulher)
- Será que ela era famosa? Será que ela tem livro? (Homem 1)
- Vê se tem alguma coisa dentro dos livros! Pega a carteira dela! (Homem2)
- Achei uma foto dentro de um dos livros...que bonito. Deve ser o namorado! (Mulher)
- Achei a carteira dela! Ela tem convênio (Homem2)
-Ela é estudante, óh...ai, que dó, meu Deus. (Homem1)
-Tem algum telefone? (Mulher)
- Não...só foto 3X4 dela e uns 10 reais. (Homem 2)
-Acharam alguma coisa aí? Pergunta o homem de laranja.
- Ela tem convênio, pode levar para hospital particular. (Mulher)
- Não será necessário, a menina faleceu. (homem de laranja)
Silêncio triste.
- Pega o celular dela, vê se tem alguma ligação, vê se tem número dos pais (Homem 1)
- Ela ligou para um "guri". Ela era do Sul? ( Mulher mexendo no celular)
- Acho que era, porque naquela foto tinha uma data e o nome do lugar, que era lá no Sul.
Enquanto discutiam para quem avisar da morte, recolheram seus objetos pessoais e colocaram dentro de um saco plástico.
- Anota aí, hora do óbito: 17h. Objetos: Um escapulário, um crucifixo, um pingente com símbolo do infinito, um brinco em formato de pena, um anel em formato de flor, óculos...( Homem de laranja)
- Crucifixo? Era católica? (Homem de laranja 2)
- Acho que sim, mas junto com o infinito? Será que era espírita? (Mulher de laranja segurando o saco)
- Nossa, não viaja! Continua anotando aí, fone de ouvido...( Homem de laranja)
Tinha gente que chorava, gente horrorizada, gente curiosa, gente indiferente e tinha sol. Muito sol. Um sol que a menina nem sentia mais.
- É, essa aí não volta nunca mais, né? (Homem 1)
-Ih...esse aí já vai filosofar (Mulher)
- Será que tinha alguém esperando ela em casa? (Homem 1)
-Bem, agora não precisa mais esperar, né? Ela não vai mesmo... (Homem2)
- Nossa, como vc é, Só por Deus! (Mulher)
Nisso, cobriram a menina com um pano branco.
- O que será que vão escrever na lápide dela?( Homem 1 que realmente gostava de fazer perguntas filosofais)
- Ah, aquela coisa de sempre, "Filha dedicada. Viveu e Amou" (homem 2)
- Amou? Será que aquela foto era do namorado dela? (Mulher)
- Ah, era uma foto especial, sabe? A gente não coloca data em foto qualquer, só em qual a gente não quer esquecer e tinha um cara na foto...sei lá (Homem 1)
- Vai ver ela tava com pressa para encontrar alguém. (homem 2)
- Que música será que ela tava escutando? ( Homem 1)
- Circulando, pessoal. o trânsito precisa continuar, vamos! (Guarda de trânsito)
- Não sei porque as pessoas ficam tão chocadas com acidentes, milhares de pessoas morrem assim todos os dias, parente nem ficam sabendo, a mídia não fala. São todos desconhecidos. (Guarda de trânsito 2)
Naquele fim de tarde de sexta, a menina esperava chegar mais cedo em casa para se arrumar e ir para a faculdade. Ela nunca ia para a faculdade de sexta, mas excepcionalmente neste dia, ela ia. Ela atravessou correndo porque já estava atrasada para pegar o trem. Nem notou o ônibus vindo em sua direção. Estava absorta em seus pensamentos e escutando músicas lindas que um moço tinha mandado pra ela uns dias antes, ela tava ansiosa para agradecer esse moço pelas músicas, ansiosa pelas aulas, ansiosa pelo final de semana que estava chegando, ansiosa para chegar em casa e comer um bom sanduiche, ela tava ansiosa para pular ondas no ano novo, ela tava com pressa de viver.
Uma vez, a menina ouviu de uma amiga, em tom de despedida:
"Um beijo, flor do asfalto"
A partir de então, comprou um anel em formato de flor, para levar nas mãos todas elas.

Quando a menina atravessava a rua, um anjo iluminado cantava em seu ouvido:

"Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver"

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tudo azul.




Fiz as pazes com Deus
Não vou usar provérbios para justificar meu ato
nem agradecê-lo.
Só entendi o recado
Entender não é o mesmo que aceitar
mas eu cansei de discutir
por enquanto.
É inútil dormir quando ainda é noite
se você acorda antes do Sol.
Ele veio? Eu o vi?
Se o céu existe
ele é azul

domingo, 1 de agosto de 2010

Amanhã.





"Você não cansa de esperar?"
"Não, eu não canso...
eu preciso esperar. Faz parte do plano"
Não espero cair do céu.
Só espero o tempo passar.
Pernas cansadas.
Falta de ar.
"E depois?
Quando você alcançar?
Quando não tiver mais nada para esperar?"
Simples...
o tempo não precisa mais passar.
ele pode parar.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Hoje.




Hoje eu só quero ouvir músicas com letras complicadas em uma língua conhecida, mas pouco explorada.
Imaginar uma vida com aventuras machucantes.
Perceber que posso tocar a mão do Diabo e conversar com Deus.
Não usar tantos verbos infinitivos.
Não coincidir.
Dormir olhando para olhos quase fechados esperando palavras confusas e simples.
Hoje eu só queria cantar. Bem baixinho.
Mas eu preciso de um violão. Quem sabe assim a gente até não grava alguma coisa.
Lê aquele seu texto em voz alta.
Faz uma arte. Faz um pouco de vida.
Beber qualquer bebida amarga só para ver as sobrancelhas juntas juntamente com os sorrisos largos.
Eu grito de tanto amor por alguéns.
Sabe, é a minha última noite aqui.
Aproveita e fala tudo o que você quiser. Me ajuda.
Faz de conta que a madrugada é infinita.
O não desejo foi engolido na paisagem bonita de um passado espantoso.
Lua branca,
devolve meus desejos.
e leva embora a minha cruz.

domingo, 11 de julho de 2010

Nascer, viver e amar ad infinitum.



"Ouve-me então com o teu corpo inteiro."
Clarice Lispector - Água Viva - página 10.

Era noite fria de inverno e ela já estava preparando o jantar. Como de costume, ela esquentava o pão no forno quando ele entrou pela porta e colocou o refrigerante rotineiro em cima da mesa. Foi até o quarto trocar a camisa e voltou com a sua velha camiseta da época do cursinho.
Ela estranhou o fato de não receber o “beijo de boa noite” e ficou encucada com isso. Ele não era o homem mais romântico do mundo, mas fazia questão de ser bem metódico em certas ocasiões. Ela percebeu também que ele levou uma sacola para o quarto, mas resolveu não falar nada, se fosse importante, tocaria no assunto na hora do jantar.
Pra falar a verdade não tinham uma “hora do jantar”. Simplesmente comiam e conversavam . Eles nunca usavam a mesa também, só para colocar a panela em cima e o refrigerante. O refrigerante não podia faltar. Podiam ficar sem água, mas sem aquele refrigerante gelado a noite não era completa. E ninguém lavava a louça depois de comer. Eles enfileiravam tudo na pia e iam assistir televisão no sofá. Depois, quando já era hora de dormir, ela ia até a cozinha e lavava, talvez porque ela tomava toddy todos os dias antes de deitar e a louça estava ali, não custava nada lavar. E quando voltava para sala, encontrava ele no sofá dormindo. O bom é que a casa era tão pequena que sala e quarto se confundiam e não era preciso acordá-lo para ir para a cama. Ela só disse baixinho no seu ouvido: “Levanta, vá escovar os dentes e não se esqueça que amanhã é sábado, você vai poder dormir o quanto quiser”. Ele levantou preguiçoso e foi até o banheiro. Ela terminou o seu toddy e colocou a xícara na pia. Mais uma louça para lavar no dia seguinte.
Então, ela foi até o banheiro e o abraçou na cintura. Começou a olhar para ele no espelho. Gostava de observar ele comendo, ele escovando os dentes, ele comentando como foi o dia no trabalho. Não sei se ele a via como uma esposa dedicada – até porque estava longe de ser uma – ou se a via como sua namorada bonita e jovem.
Ela o via como seu sonho em forma de ser.
Ele acabou de escovar os dentes e esperou ela escovar os dela. Depois, segurou seu rosto e a beijou com tranqüilidade. Como se aqueles beijos fossem deles e fossem eternos.
E eram.
Antes mesmo de chegarem na cama ele tirou a camiseta dela. Ela estranhou mais uma vez, pois ultimamente ele andava bem cansado e os beijos apaixonados já valiam para uma noite toda. Ele apagou a luz e então ela não estranhou mais nada.
Conhecia bem cada movimento dele. Suas mãos apressadas, suas risadas calmas, sua inquietação jovem, suas atitudes que mudavam a cada som produzido de forma natural, verdadeira. Os dois usavam todos os sentidos, até a visão, pois a janela sempre ficava aberta e a noite sempre foi clara em dias frios.
Quando o celular despertou às 5 horas, eles ainda estavam acordados e ela tinha esquecido de não programar o alarme aos sábados. Ele riu quando ela pegou o celular e simplesmente desligou o aparelho.
Ele foi até o pé da cama e tirou o conteúdo da sacola. Era um vinho.
- Por que você comprou um vinho?
- Porque vamos comemorar algo hoje.
- Hahaha. Romantismo te pegou de jeito mesmo. Comemorar o quê? O nosso amor? Por que se for, nós comemoramos todos os dias com refrigerante. Hahahaha
- Não, nós vamos comemorar o nascimento do nosso filho.
-Filho? Como você sabe que o nosso filho nasceu hoje?
-Porque o nosso amor nasce de novo a cada noite igual a essa.
Ela o olhou de forma radiante. E sorriu. E fechou os olhos.
Na manhã seguinte, ele comprou mais uma xícara e mais toddy.

sábado, 10 de julho de 2010

Procurar para curar.



Me faz mal.
Perder a capacidade de permanecer com um sorriso por mais de 3 horas seguidas.
Todas as pessoas que eu admiro nasceram no mesmo lugar que eu.
Por que eu não me sinto admirada?
Eu só queria um mar na minha frente.
“Baby...baby...”
E uma liberdade só minha
Impossível de ser discutida. Principalmente se eu tentar definir o que ela significa para mim.
Será que você vai entender?
Uma pena se a gente parar pra pensar, né?
Logo a gente que se entendia pelos neurônios idênticos.
Parece que o urso do meu abraço fugiu por esse asfalto negro.
Sabe quando você recebe uma luz e resolve escrever e quando percebe sua história não tem nem 5 linhas.
Não sei mais escrever histórias.
Eu só penso
E de tanto pensar elas não tem começo.
Muito menos um final.
E eu procuro dias sem sentido.
Dias verdadeiros.
Tambores, guitarras, vozes e muita cerveja.
Vida irreconhecível
Infinitamente simples.
Caminharei na minha casa
Assim como Jesus um dia caminhou.
Eu sorri muito essa noite...
Eu estava sonhando.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Querido Diário.





Ando tão distraída e tão acostumada
Que meus pés já sabem o caminho
E a música toca na hora certa.
Sempre de manhã
Quando o vento mecânico toca meu rosto.
Eu fico assustada ao ver tantas pessoas
Do mesmo tamanho
Com o mesmo cabelo
Enfileiradas
Inquietas
Ganhei uma flor nova hoje
Pois eu saí mais cedo do trabalho
Vozes angelicais me fazem companhia
Quem já viu uma poesia nascer
Não pode compará-la a uma construção
Tem um urubu na casa abandonada
E ainda são quatro horas da tarde.
Droga!
Esqueci a blusa de novo.
É tanta luz no fim do túnel
Que eu nem consegui dormir.
A minha fome é proporcional
Ao tamanho da fila da lanchonete
Lingua e Fala
Horácio e Aristóteles
Métrica e Ritmo
Tudo isso faz sentido?
Eu não quero dormir.
Fim da noite ou Final do dia?
Eu saí da Ilha.
Como eu faço pra voltar?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Primeiro canto.




Meus cabelos compridos
cobrem os meus seios jovens.
Já esqueci o que posso ou não posso esconder.
Se uso meu vestido comprido
ao entrar no mar
sou descoberta
com um grito cortante e surdo
Invasão infinita.
Prazer solitário inconsequente
Calor doentio suficiente
Imaginação corajosa sobrevivente
A Penélope vira sereia
A imaturidade antecede a experiência.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Roteiro Adaptado




Talvez eu deva parar para pensar
É, deixar de pensar como vai ser
ou como foi.
Andar nos trilhos
sem dormir em pé
Deixar de escrever
Enxergar além
Sabe?
A névoa, assim, de longe
com uma boa música
é tão bonito.
Você não acha?
Talvez eu deva me apaixonar
Talvez haja prazer em tudo isso.
Talvez eu descubra um mundo novo
como criança pequena
que não sabe esperar.
Melhor, não quer esperar.
É preciso perceber que as mãos estão sozinhas
mas não vazias.
Talvez seja a hora de gritar.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Paz





Dormir.
Dormir e não sentir frio
Dormir completamente
Dormir sem ouvir barulhos mecânicos
Dormir sem preocupações cotidianas
Dormir e sentir a respiração
Simples.
Sonhar.
Sonhar sem cansar
Sonhar sem mexer os braços nem as pernas
Sonhar com música sem letra
Sonhar tanto que a morte chega e você nem percebe.
Acordar.
Acordar e ver que ainda não é dia, mas também não é noite.
Acordar e escutar sinos de igreja
Acordar e olhar o teto branco
Acordar e sorrir por enxergar no teto branco
um céu cheio de estrelas.
Estrelas estáticas e silenciosas
Como as estrelas realmente devem ser.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Teatro dos vampiros.




Eu prefiro 910 facas cortando o vento gelado
atravessando o meu rosto
A ouvir palavras familiares na boca de outra pessoa.
Nunca precisei sair do chão para me fazer presente
Nem receber olhares piedantes
Muito menos chorar por 24 horas seguidas.
Mas agora não importa mais.
Todas as frases ditas não tem efeito algum
Quando o assunto é o outono frio entre quatro paredes metálicas.
Um ato que se repete
Cada vez que a noite chega
E me cega.
Não sinto raiva
Sinto tristeza.
Me deixa entrar nesse labirinto.
O lençol já saiu do colchão faz tempo
E nem está no varal mais.
Eu levo ele para levantar voo comigo.
Minha saída
É esperar.

sábado, 24 de abril de 2010

Minha Saudade.





Um dia
Eu, criança curiosa e atenta,
Me deparei com aquele mar molhando os meus pés.
Não vim do sertão
Nunca trabalhei no sol
O calor nunca foi um inferno pra mim.
Mas quando vi aquele mar
Vi os olhos de Deus.
Um dia
Eu, menina assustada e sonhadora,
Brinquei na areia, o sol queimou minha pele
Me lavei naquele mar.
Joguei fios do meu cabelo
Como colares para Iemanjá.
Um dia,
Eu, mulher madura e insatisfeita,
Vou adormecer naquele mar
As ondas atravessarão meu corpo
E o frio congelará a minha alma.
O céu cantará uma canção de ninar
E num infinito marinho
Na busca pelo meu amor
Pela minha poesia.
Eu ficarei em paz.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Quimera






Trabalha
Trabalha
Trabalha
Tenta fugir de vontades sonhadoras
Esquece os dias que virão
Não conte nos dedos das mãos
Tudo isso faz sentido?

Espera
Espera o coração se acalmar
Tudo está fora do lugar
Controle? Felicidade?

Explica
Explica pra mim
Que poder é esse que me domina?
Você cruzou a minha linha
E agora não quer mais sair.

Fala
Fala o que eu quero ouvir
Não me preocupo em pensar
Não há nada errado em sentir.

Longe
Longe de mim sofrer
Você sabe o que fazer?
Será que eu devo ir?

Ama
Ama
Não tentarei mais nada
No final das contas, a dúvida mata.
Eu quero amar mesmo assim.

domingo, 4 de abril de 2010

Milagre diário.




Não sei até que ponto posso me apaixonar várias vezes, todos os dias.
Você colocou aquela música para tocar
e fez das minhas costas, sua obra de arte.
Até quando minha risada ecoará por esse céu concreto?
Sinto que a cada feriado eu me vejo mais livre
para viver minhas ideologias.
Sei também que minha visão de infinito
está internamente ligada
a meus medos e amores.
Seria tudo diferente?
Acho que estou no lugar certo.
Assim como espero estar a cada primavera.
e minha risada sempre será assim,
insatisfeita,
e apaixonada.

domingo, 14 de março de 2010

Volta Seca





Era noite clara de inverno quente no sertão esquecido de minha memória.
Porém eu escutei o nome forte, as grades manchadas, o barulho de chave...
tive que ir até lá.
Fui embora de chinelos e voltei com os pés menores e amarrados em couro grosso
Ao ver você pequena de tranças feias e vestido rasgado...
não era possível, não era.
Era.
Era difícil admitir que aquela magreza carregava meu nome insoletrável, era feita de parte de mim.
Quando deixei o sertão eu não olhei pra trás para o sol não cegar a pouca visão que ele tinha me tirado.
E agora eu tenho que carregar esse pedaço de gente comigo, essa pele quente e maldita.
O sertão é amaldiçoado.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Antes e depois.


Alguma vez você já se apaixonou cedo demais?

Cansada de ler livros com títulos de aprendiz

Você se apega a contos infantis

E chora ao ler uma frase feita de açúcar.

Alguma vez você já foi interrompida no meio de um poema?

E quando voltou, percebeu que a caneta estava fora do lugar?

Cansei de usar o mesmo caderno

Me desvencilho de passados rimados

E choro por não saber o que falar.

Alguma vez você esperou sentada?

E depois de contar todas as letras de todos os cartazes da estação

Cansou de se sentir trocada?

Aquela vez, eu chorei abandonada.

Quando chegará a sua vez?

Alguma vez você pensou em mim antes de dormir?

Certa vez...

Eu olhei para o céu de uma cidadezinha pequena

Fazia calor dentro da fantasia de carnaval.

Você viu meu sorriso por trás da máscara.

E chorei, por me sentir feliz.

Certa vez.