sábado, 30 de outubro de 2010

Pássaro Cinza




Já posso ouvir os pássaros cantando mesmo de noite.
Engraçado como em tão pouco tempo eu percebi que pessoas ilustres não são nada mais do que pessoas ilustres.
Eu não estou acostumada a ver tantas coisas bonitas assim, de uma vez só.
Cidade que não para também tem hora pra dormir e acordar e eu a vi bocejar com vontade hoje.
Como é possível eu estar aqui com o corpo, a alma e o coração e ao mesmo tempo sentir saudade boa?
Eu sei, são só hematomas, mas para mim e para um amigo meu que falou antes de mim, são marcas que te mostram que você está viva.
E a vida corre muito rápido aqui
com essa solidão(pelo que dizem) gostosa compartilhada.
E quem disse que isso é triste?
Let it Be
e que seja assim.

domingo, 24 de outubro de 2010

Herói





Se os tempos estão mudando e você me diz, com certeza, que é bom ser inseguro, não posso voltar atrás na época em que eu acreditava ser realmente feliz. Posso?
Eu não quero te ver com olhar vazio no corredor do amor eterno.
Não mesmo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Uma vez




A primeira vez que eu te vi
Eu achei melhor não cumprimentar de uma forma muito comum
A impressão inicial é a que fica e eu não queria parecer idiota.
E você me deu esse sorrisinho maroto
como quem diz: "não se preocupe, eu te achei bonitão"
e eu resolvi saber o seu signo e ascendente.

A segunda vez que eu te vi
Você resolveu se arrumar (como se precisasse)
colocou aquele brinco emprestado da sua mãe
e levou só a identidade e a carteirinha do estudante.
Sim, vc sabia que eu era um gentleman e que eu pagaria a conta.
Sério mesmo que vc se arrumou assim para me ver?

A terceira vez que eu te vi
Você me perguntou se eu tinha um sonho
Eu respondi que a falta de tempo não deixava
e nós dois rimos, pq sabíamos que não era verdade.
Eu peguei na sua mão bem devagar
e saímos pelas ruas do centro em busca de sorvete de rosas

A quarta vez que eu te vi
Ficamos umas 2 horas na fila embaixo do sol do meio dia
mas até que elas passaram correndo
A gente não conseguiu ver nada do show
e resolveu tomar um café da manhã pq já estava amanhecendo
Não queria te levar pra casa.

A quinta vez que eu te vi
você estava bem cansada e disse que não queria sair.
fui para praça sozinho pensando se acreditava ou não
aí, você me mandou uma mensagem dizendo:
"é bom sentir saudades suas"
e eu resolvi comprar seu refrigerante favorito.

A sexta vez que eu te vi
Você resolveu chegar na minha casa de surpresa
trouxe cachaça barata e um monte de copinho plástico
disse que tinha vergonha de me perguntar certas coisas
e me perguntou se eu queria brincar.
Presente de dia das crianças.

Na sétima vez que eu te vi
eu estava realmente bravo por vc ter saido da minha casa sem avisar
você me lançou um olhar triste e devolveu minha camiseta.
disse que ia sumir por um tempo
procupar um pouco de paz, fazer um pouco de vida
e eu chorei muito bem na sua frente.

Na oitava vez que eu te vi
Você estava com um vestido florido e sandálias simples
"comprei na feirinha do centro", vc disse com o sorriso bonito.
Você contou sobre a sua viagem, do sol nordestino, das suas chefes velhinhas
eu te contei do meu novo emprego, do meu repertório, da minha saudade
e você me deu um beijo tão bom, mesmo sendo calmo.

Na nona vez que eu te vi
você me acordou antes de ir embora.
Disse que precisava trabalhar, mas que voltava e trazia algo pro jantar
Era segunda e eu não precisava trabalhar
esperei você com o cachorro quente pronto
e dormi com a geladeira aberta.

Na última vez que eu te vi
você estava naquela mesma praça com uma criança no colo
sei que não era seu filho.
você devolveu a pequena para a mãe
passou a mão nos olhos e me viu.
Deu um tchau de longe e seguiu caminho.

Às vezes eu penso, querida
Queria te ver de novo
Para te perguntar o pq vc foi embora no feriado
só para dizer que eu sonhei com você
e que você sabe onde eu moro, como eu vivo, o que eu quero.
e só você aparecer.
se você querer.

Texto inspirado na música "Last time I saw you" do Vanguart.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Refletor.




Resolveu desligar o computador três horas, a televisão estava ligada sem som, como de costume, e ela estava bem feliz por ter o sofá só pra ela. Arranjou algo na geladeira (agora sempre cheia) e deu uma risada saudosa quando recordou os tempos de bolacha com margarina.
Foi para o sofá, ficou totalmente no escuro e andou até a sacada para afastar um pouco as cortinas. Disse inúmeras vezes como odiava cortina e mesmo assim sua mãe colocou. Pensou irritada: "Na minha casa vai ser diferente" Ou não, já que como filha, herdara todas as manias da mãe, até a de colocar a toalha de rosto da cor do azulejo para o banheiro de visitas.
Silêncio vazio. Em outros tempos começaria a chorar de saudade e pensar: "A essa hora eu estaria em algum bar jogando conversa fora" e choraria mais ainda por saber que não vivenciaria isso de novo tão cedo.
Mas dessa vez não, ela escolheu ficar em casa. Resolveu alugar aquele filme e comprar aquela barra enorme de chocolate para lembrar o porque ainda quer fazer disso sua razão.
Ela ainda gosta de combinar o brinco com a blusa, de textos femininos, de clima primaveril, mas sentia que algo estava diferente.
O relógio no pulso denunciava uma certa escravidão pelo tempo, o anel em forma de flor nos dedos com as unhas mal feitas, informava uma certa delicadeza mesmo com a revelação do feio, o tênis com sola deu lugar ao tênis sem sola, é mais seguro. Dura mais.
De repente, começou a se despir.
A blusa branca caiu para fora do sofá, a bermuda jeans caiu rapidamente nos pés, o sutiã e a calcinha, devagar, saíram de seu corpo, como se tivessem vida.
Agora, nua, a diferença não estava visível e acho que ao fazer isso, ela tinha uma intenção. Descobrir o que realmente estava diferente.
Ao fechar os olhos e lembrar de dias bonitos sem derramar uma simples lágrima, ela percebeu que não chorava mais, endureceu o suficiente para aceitar que lembranças fazem parte do passado.
Abriu os olhos e tentou não pensar em futuro, no passado e muito menos no presente. Amadureceu o suficiente para perceber que o tempo não tem culpa de nada. Aliás, é ele que a ajudou a parar de chorar, ou melhor, a falta dele.
Parar de sonhar ela não fez. Não conseguiria passar um dia sem imaginar sua casinha na praia...
Será que algo realmente mudou de fato?
Não.
Ainda esperava o dia em que alguém a tirasse daquele sofá e falasse, baixinho.
"Vamos dormir na cama."