sábado, 27 de setembro de 2008

Não viver, só recordar.


" O jardim era pequeno, mas a voz humana tem todas as notas, e os dois podiam dizer poemas sem serem ouvidos". Quincas Borba - Machado de Assis.



Comprou um sabonete rosa, na capa, uma figura de uma flor bonita.
"Extrato de Orquídea"
O banheiro era estreito, pequeno e o perfume que saía de cada parte ensaboada dizia que era dia de mudanças.
A marca da mão se arrastando no boxe era só o começo.
Ela pensava muito enquanto a água caía pelo corpo.
Quando ele disse que vinha, a primeira reação foi espantosa. Nunca achou que voltaria, até porque nunca prometera nada.
O que importa é que ele voltou, não para ficar e ela sabia disso, mas ele voltou.
Reencontros se baseiam em dúvidas. É difícil se surpreender com uma mudança a ponto de aceitar esse novo presente? É simples se lembrar de como era, se deixar levar...E fazer acontecer? É cômodo simplesmente esperar o acaso se encarregar de montar uma cena e obter um final incerto, mas feliz?
Ela escolheu se prender as velhas sobrancelhas interpretáveis.
Ele preferiu se surpreender.
Ela revivia o passado ao encontrar aquele que a segurou forte na cintura pela primeira vez
Ele só queria ganhar o beijo maduro daquela que mexia no seu cabelo com uma ternura infantil.
Enquanto ela se trocava, ele reparava no novo lar que ela construiu.
Tudo neutro, incolor, sério.
Ela apareceu com um vestido amarelo, foi aí que ele percebeu que já não conhecia mais aqueles traços antes tão roxos e verdes.
Ela repousou sua mão na dele e o levou até a sacada.
Não tinha lua, mas tinha estrelas.
- Você disse que não ia voltar - os autênticos cabelos femininos caíam nos olhos.
Ele deu a típica risada alta, como se a resposta fosse óbvia.
- Eu estar aqui já te responde. Você mudou tanto. Achei que com essa mudança, o fato de vc nunca ter confiado em mim, também mudaria.
Por que ele fazia aquilo com a sobrancelha? Sabia que a marca das melhores lembranças se limitava aquele gesto tão singular.
- Não quero ir embora.
- Não acredito em você.
Era mentira, claro. Ela sentiu saudades de beijar aquela face lisa, de arrancar a camiseta larga, de puxar os cabelos negros.
- Não é o que o seu cheiro de orquídea diz.
A mão dela ainda segurava a dele.
E elas se arrastavam.

Setembro/2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Começou.



Eu poderia fazer um post super adjetivo para a estação que intitula esse blog.
De fato, vontade não me falta.
No entanto, acho que o vento primaveril e as minhas flores queridas já são poemas para mim, sem palavras, sem linguagem, sem escritura.

Espero minha felicidade vir com os encantos de setembro.


Boa primavera para vocês.

Naty Sanches.