segunda-feira, 20 de junho de 2011

Máximo de vida.





-Mãe?- Ela perguntou com a esperança de dessa vez escutar alguma coisa a mais,
mas a mãe continuou de olhos fechados e respirando fundo, como se o sonho tivesse tão bom que ela não quisesse acordar.
-Mãe? Você ta com fome? - Ela tentou mais uma vez.
Não obteve um ruído.
A mãe passou meses assim, com o mínimo de saúde e o máximo de vida.
Às vezes chegava perto só para sentir se o coração ainda batia, já que sua respiração ela escutava de longe.
O fato é que vivia e sonhava e não respondia.
Parecia que a vida se esvaía do corpo a cada tentativa frustrada de abrir os olhos, comer, tomar banho, dar um abraço.
O tempo de viver pode se prolongar e não se sabe muito bem porquê.
Será que ainda há motivo para sorrir? Será que falta uma despedida decente pra acontecer? Será que ainda se pode ter força para escrever?
O filme da vida já passou e despassou pela frente diversas vezes e o som do sino toca diariamente,
mas ainda é possível sentir sede e pedir por água.
Por enquanto, a morte chega e em vez de separar para sempre
segura nas mãos do corpo e da alma.

domingo, 19 de junho de 2011

Atrás do arco-íris.




Muitas poesias foram perdidas durante este tempo.
Lembro que foi numa manhã fria de terça-feira, dessas que o vento dança por entre os prédios da famosa Avenida e se misturam no trânsito caótico da cidade que respirei fundo.
Uma profundidade irreconhecível após tantas tentativas de ar.
Ali comecei a tentar escrever sobre a mudança que é deixar de viver só com o pensamento e pisar no chão com sapatos sem cadarços.
Mas eu não consegui.
Tudo me pareceu tão óbvio.
Essa mania de se mostrar forte quando a fragilidade não é uma doença. A triste forma de usar palavras fortes quando o silêncio faz muito melhor esse papel. A inútil maneira de achar que o texto alivia quanto teoricamente só faz instigar.
Amputei-me de qualquer tristeza ao escolher o lado preto e branco da vida. Tudo parece mais rígido e eu me sinto mais cansada do que nunca com o meu relógio de marca...
mas não reclamo.
Minha satisfação é plena e eu a sinto com as mãos. Minha insatisfação é imperceptível e dura até meu despertador desligar.
Porém,
meus abraços ainda duram mais de cinco segundos, eu abro um sorriso quando vejo o dia surgindo no domingo, me surpreendo com o desânimo de Drummond e olho atenta para o braço do violão no começo de música bonita.