quinta-feira, 29 de julho de 2010

Hoje.




Hoje eu só quero ouvir músicas com letras complicadas em uma língua conhecida, mas pouco explorada.
Imaginar uma vida com aventuras machucantes.
Perceber que posso tocar a mão do Diabo e conversar com Deus.
Não usar tantos verbos infinitivos.
Não coincidir.
Dormir olhando para olhos quase fechados esperando palavras confusas e simples.
Hoje eu só queria cantar. Bem baixinho.
Mas eu preciso de um violão. Quem sabe assim a gente até não grava alguma coisa.
Lê aquele seu texto em voz alta.
Faz uma arte. Faz um pouco de vida.
Beber qualquer bebida amarga só para ver as sobrancelhas juntas juntamente com os sorrisos largos.
Eu grito de tanto amor por alguéns.
Sabe, é a minha última noite aqui.
Aproveita e fala tudo o que você quiser. Me ajuda.
Faz de conta que a madrugada é infinita.
O não desejo foi engolido na paisagem bonita de um passado espantoso.
Lua branca,
devolve meus desejos.
e leva embora a minha cruz.

domingo, 11 de julho de 2010

Nascer, viver e amar ad infinitum.



"Ouve-me então com o teu corpo inteiro."
Clarice Lispector - Água Viva - página 10.

Era noite fria de inverno e ela já estava preparando o jantar. Como de costume, ela esquentava o pão no forno quando ele entrou pela porta e colocou o refrigerante rotineiro em cima da mesa. Foi até o quarto trocar a camisa e voltou com a sua velha camiseta da época do cursinho.
Ela estranhou o fato de não receber o “beijo de boa noite” e ficou encucada com isso. Ele não era o homem mais romântico do mundo, mas fazia questão de ser bem metódico em certas ocasiões. Ela percebeu também que ele levou uma sacola para o quarto, mas resolveu não falar nada, se fosse importante, tocaria no assunto na hora do jantar.
Pra falar a verdade não tinham uma “hora do jantar”. Simplesmente comiam e conversavam . Eles nunca usavam a mesa também, só para colocar a panela em cima e o refrigerante. O refrigerante não podia faltar. Podiam ficar sem água, mas sem aquele refrigerante gelado a noite não era completa. E ninguém lavava a louça depois de comer. Eles enfileiravam tudo na pia e iam assistir televisão no sofá. Depois, quando já era hora de dormir, ela ia até a cozinha e lavava, talvez porque ela tomava toddy todos os dias antes de deitar e a louça estava ali, não custava nada lavar. E quando voltava para sala, encontrava ele no sofá dormindo. O bom é que a casa era tão pequena que sala e quarto se confundiam e não era preciso acordá-lo para ir para a cama. Ela só disse baixinho no seu ouvido: “Levanta, vá escovar os dentes e não se esqueça que amanhã é sábado, você vai poder dormir o quanto quiser”. Ele levantou preguiçoso e foi até o banheiro. Ela terminou o seu toddy e colocou a xícara na pia. Mais uma louça para lavar no dia seguinte.
Então, ela foi até o banheiro e o abraçou na cintura. Começou a olhar para ele no espelho. Gostava de observar ele comendo, ele escovando os dentes, ele comentando como foi o dia no trabalho. Não sei se ele a via como uma esposa dedicada – até porque estava longe de ser uma – ou se a via como sua namorada bonita e jovem.
Ela o via como seu sonho em forma de ser.
Ele acabou de escovar os dentes e esperou ela escovar os dela. Depois, segurou seu rosto e a beijou com tranqüilidade. Como se aqueles beijos fossem deles e fossem eternos.
E eram.
Antes mesmo de chegarem na cama ele tirou a camiseta dela. Ela estranhou mais uma vez, pois ultimamente ele andava bem cansado e os beijos apaixonados já valiam para uma noite toda. Ele apagou a luz e então ela não estranhou mais nada.
Conhecia bem cada movimento dele. Suas mãos apressadas, suas risadas calmas, sua inquietação jovem, suas atitudes que mudavam a cada som produzido de forma natural, verdadeira. Os dois usavam todos os sentidos, até a visão, pois a janela sempre ficava aberta e a noite sempre foi clara em dias frios.
Quando o celular despertou às 5 horas, eles ainda estavam acordados e ela tinha esquecido de não programar o alarme aos sábados. Ele riu quando ela pegou o celular e simplesmente desligou o aparelho.
Ele foi até o pé da cama e tirou o conteúdo da sacola. Era um vinho.
- Por que você comprou um vinho?
- Porque vamos comemorar algo hoje.
- Hahaha. Romantismo te pegou de jeito mesmo. Comemorar o quê? O nosso amor? Por que se for, nós comemoramos todos os dias com refrigerante. Hahahaha
- Não, nós vamos comemorar o nascimento do nosso filho.
-Filho? Como você sabe que o nosso filho nasceu hoje?
-Porque o nosso amor nasce de novo a cada noite igual a essa.
Ela o olhou de forma radiante. E sorriu. E fechou os olhos.
Na manhã seguinte, ele comprou mais uma xícara e mais toddy.

sábado, 10 de julho de 2010

Procurar para curar.



Me faz mal.
Perder a capacidade de permanecer com um sorriso por mais de 3 horas seguidas.
Todas as pessoas que eu admiro nasceram no mesmo lugar que eu.
Por que eu não me sinto admirada?
Eu só queria um mar na minha frente.
“Baby...baby...”
E uma liberdade só minha
Impossível de ser discutida. Principalmente se eu tentar definir o que ela significa para mim.
Será que você vai entender?
Uma pena se a gente parar pra pensar, né?
Logo a gente que se entendia pelos neurônios idênticos.
Parece que o urso do meu abraço fugiu por esse asfalto negro.
Sabe quando você recebe uma luz e resolve escrever e quando percebe sua história não tem nem 5 linhas.
Não sei mais escrever histórias.
Eu só penso
E de tanto pensar elas não tem começo.
Muito menos um final.
E eu procuro dias sem sentido.
Dias verdadeiros.
Tambores, guitarras, vozes e muita cerveja.
Vida irreconhecível
Infinitamente simples.
Caminharei na minha casa
Assim como Jesus um dia caminhou.
Eu sorri muito essa noite...
Eu estava sonhando.