domingo, 27 de outubro de 2013

Ilusões da Literatura



Abrigo da pastora - Renoir




"Lívia tem esse defeito capital: é romanesca. Traz a cabeça cheia de caraminholas, fruto naturalmente da solidão em que viveu(...) e dos livros que há de ter lido. Faz pena porque é boa alma"

Ressurreição – Machado de Assis



Acostumei tanto com a minha ingenuidade que agora tento ser o oposto,
aquela que prevê tudo e não se ilude com nada.
Se antes me gabava por ser otimista e carregadora de casacos,
hoje levanto com uma coragem falsa, com a bolsa vazia de palavras.
A partir de quando perdi a esperança no tempo?
Será que foi quando eu perguntei : “Vamos? Eu preciso ir agora.”
E você, pela primeira vez disse: “Não, acho melhor não”.
E assim, preenchi meus dias com sentimentos dependentes, com viveres melancólicos.
Condenando-me por gostar de romances, desses que sublinho a frase no livro,
E depois a vivo, a despido, a penetro,
Vestindo-me cansada após devorá-la como se eu fosse as reticências
De tudo que vivi.
E depois de tantos etc, depois de tanta arte, depois de toda travessia que não para de bater nas pedras do caminho,
eu perceba que a mulher para ser de verdade
Não deve se destacar por suas virtudes,
senão vira conto de fada, princesa da Disney, menina ingênua.
De novo.
Então, suplico...
Que as minhas horas gastas em ilusões
me transformem em uma mulher sem julgamentos
Sem a certeza de que há espaço, tempo, personagem, trilha sonora.
Mas que cada verso teu,
Me lembre de sentir amor
Por alguém como eu.