terça-feira, 30 de novembro de 2010

Década ganha.






Amanhã é meu aniversário.
É engraçado você nascer ( e aí, fazer aniversário) no último mês de uma década.
É como um calouro na faculdade e um aluno do terceiro ano do ensino médio.
Você acha que carrega toda uma experiência de uma geração e ao mesmo tempo rola aquela esperança de começar algo novo de um jeito diferente.
Foi assim que eu me senti com 20 anos.
Uma caloura com experiência...
Com 20 anos eu ganhei tinta no meu rosto mais uma vez
e uma seriedade impressionante, necessária e prazerosa.
Com 20 anos eu não queria perder tempo
achava que minha vida poderia acabar a qualquer momento
e minha solidão me fez bem por alguns dias.
Com 20 anos eu ganhei brilho nos meus olhos secos
por ver todos aqueles prédios fascinantes
refletindo na podridão do Rio Pinheiros.
Com 20 anos eu ganhei um novo sonho realizado
o maior espetáculo do mundo em um estádio de futebol
e eu esperei o exato momento
para ser livre
E fui.
Com 20 anos minha carteira ganhou mais volume
de dinheiro, claro...
mas de contas também.
Com 20 anos minhas broncas se misturavam com sorrisos
porque apesar de toda postura
eu me derreto quando me pedem um abraço.
Com 20 anos eu ganhei o som de palavras conhecidas em lábios mais conhecidos ainda
a mesma boca que lê é a mesma que canta
e se eu posso ver,
eu reparei em você...
Com 20 anos eu ganhei um susto feliz
aquele mundo imaginário realmente existe
e eu frequento ele toda noite de segunda a quinta.
Com 20 anos eu ganhei no meu pescoço
a maravilha de uma amizade infinita
Ainda sinto o abraço apertado delas
Com 20 anos eu vi meu urso angustiado ir embora
sem saber que levou uma parte minha com ele
e que a eternidade não deixa esquecer.
Com 20 anos eu voei entre as nuvens
eu dormi entre as nuvens
eu olhei as nuvens de perto
eu quis pular, só para ver se elas iam me segurar.
Com 20 anos eu ganhei o sonho de quem gosta de fazer música
a mesma música que aparece no crepúsculo
de um fim de tarde.
Com 20 anos eu vi o amor que me criou
sentado no sofá de mãos dadas
há quase 30 anos.
Com 20 anos eu dormia tarde e acordava cedo
não dava nem tempo de sonhar.
E eu comprei um relógio para não me atrasar
E meu corpo emagreceu de tanto correr
Uma corrida contra o tempo.
Com 20 anos eu ganhei LOUCOS
Já não posso viver longe deles de tanto amor que eu sinto...
Com 20 anos eu ganhei roupas masculinas
para dançar feito menina
e aceitar as pessoas lindas como elas realmente são.
Com 20 anos eu ganhei um coração aflito
por cada noite esquecida
sem querer.
Com 20 anos eu acordei ao som de sinos de igreja
me apaixonei por sentir paz pela primeira vez
conheci um anjo negro que gosta de café.
E fui embora com a certeza de que sempre posso voltar.
Com 20 anos, eu ganhei força e coragem para cantar as mudanças.
Podem falar que é a década perdida.
Pois eu digo que foi com 20 anos
Eu só ganhei.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Eu só sei.




No fundo, todo homem quer a mesma coisa:
Uma mulher bonitinha que prepare um jantar gostoso e espere ele chegar do trabalho em casa com o pijama passado em cima da cama.
A mesma mulher burrinha que passa a tarde no supermercado escolhendo a dedo o melhor queijo para servir no café da manhã antes de ver seu lindo marido combinar a meia com o sapato e abrir a porta para mais um dia cansativo de trabalho.
Não estou generalizando, só comecei a observar você após eu fazer coisas desse tipo.
Ou comecei a ler muitos livros (escondida) sobre o assunto.
Homem é filho da puta.
Porque quando sua mulher está em casa, ele não precisa avisar que chegará tarde.
Talvez não avise de propósito só pra ver a coitada dormindo de camisolinha com o telefone do lado.
Agora, experimenta sair do nada para um passeio noturno só pra sentir o ar poluído com cheiro de chuva. Experimenta colocar um salto em dia de semana e comprar uma lingerie nova.
É capaz de ele levar trabalho pra casa ou te dar mais dinheiro pra você comprar um liquidificador novo.
Como eu sei tudo isso? Simples.
Comecei a observar você após eu fazer coisas desse tipo.
Homem se acha esperto.
Talvez por achar que a esposa não reparou no nome fantasia que apareceu às três horas da tarde de uma quinta-feira no extrato da conta do banco.
Ou por achar que a mulher acreditou na desculpa de que não era hálito de pinga, e sim culpa da azia. E ainda pedir pra fazer um chazinho.
Homem é burro.
Faz questão de quebrar o pescoço para ver uma bunda bonita
Compra rosas para pedir desculpas
Acredita em gemidos calminhos
e ronca alto sem perceber que a esposa ainda está acordada.
E depois de toda a droga pesada, de toda a infelicidade, de todo sexo ruim, de toda a vontade de fazer dar certo, de tentar mudar, de tentar mostrar pra ele que você pensa
Você percebe que vida boa é de quem controla os sentimentos.
Ou seja,
de quem não se apaixona.

sábado, 20 de novembro de 2010

Pensamentos de uma sexta-feira cansativa




Ah, se todos soubessem como a minha vida é confusa a medida que o sono não chega
Como se adiantasse alguma coisa eu vencer essa insônia e dormir por puro cansaço.
Não.
É preciso muito pouco para me fazer acordar de novo.
Obrigação gostosa e sensação de utilidade faz eu me achar super bem resolvida.
Bobagem.
Porque é preciso sentir cada segundo na pele para resolver bem a sua vida
e eu só sinto o suor que o relógio deixa no pulso.
Você chega em casa e escuta o silêncio em cada canto devidamente limpo
com a vontade de acender a luz só pra sentir o aroma que vai pairar no ar.
Tristeza é ver a noite bonita e não sair nem na sacada.
Felicidade é acordar, te ver dormindo e perceber que o despertador ainda nem tocou.
Eu tenho uma mania desgraçada de desejar abraços quando eu sei que eles não vão aparecer.
E aí eu fico olhando pra cima
como aluno que não sabe a resposta, mas tenta enxergar o triângulo no teto.
A falta de abraço vira busca incessante por aquelas frases que estão naquele livro que está naquela casa que eu não posso ir.
Necessidade absurda de tatuar na pele o caminho melodioso de soluções.
Acho que faço o certo sem saber se ele existe ou não.
O coração chega a doer porque tá batendo bem fraquinho mesmo sem toda aquela vodka.
Falo tanto do asfalto quente e cinza, mas nunca queimei meus pés por aqui.
Eu já sei o que você vai falar
do meu exílio voluntário
de como eu não faço poesia
você vai falar sobre como eu devo mudar
Eu quero é isso mesmo
Mudar
pra qualquer lugar
com alguém sem interrogações, só pra me dizer coisas do tipo:
“ Eu gosto do jeito como você é feliz com pouca coisa...
quer um chocolate?”
ou seria melhor ir sozinha, né?
Assim, eu não ficaria triste se esse alguém esquecesse de falar isso.
Mas já é final do mês e eu to sem dinheiro.
Então eu vou é ficar aqui mesmo
e fingir que não penso em você antes de dormir
e acordar antes de começar a sonhar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dia de sol.





Meus olhos míopes giravam mais que o normal
meu corpo de mulher dançava como dançarina de caixinha de música
meus cabelos soltos grudavam na minha nuca suada.
Meu sorriso radiante não se fechava.
Eu sentia que era a vez de me despedir daquelas perguntas, cujas respostas pareciam tão distantes.
Porque não tentar? Porque não fazer? Do que eu tinha medo?
Tinha medo de muitas coisas, visto que não sabia como ia ficar, ser ou fazer,
mas era hora de me despedir disso também.
Com um último aceno eu apaguei minhas convicções.
Minha consciência estava tão falha que minha fala virou sussurro suplicante
Meus olhos antes tão ativos se fixavam em pontos isolados, como se as paredes fossem desabar e cair em cima de mim.
E por mais que você falasse, eu não acreditava,
por um segundo eu ainda queria ter o controle das minhas atitudes.
Talvez pelo fato de ter sido traumatizada com tanta responsabilidade.
Parecia tão surreal ter alguém ali tão perto.
E eu fechava os olhos e ouvia vozes angelicais...
Morri? Sonho? É verdade? Cadê todo mundo?
O dia escureceu naquele quarto
e meu coração batia tão forte que eu jurava estar perto do sol
mas e o frio? Meu corpo inteiro pedindo por água, por calor, por paralisia.
Minha cabeça batia para todos os lados e eu me perguntava porque ela não parava.
Minhas pernas nuas e inquietas sentiam o piso congelante
e eu falava, sem saber se devia ou não, mas falava
Vergonha cretina que me matava a cada lágrima indigna
em meio a tantos calores e frios, as chuvas nos olhos, no rosto.
É essa a água que abençoa? Então eu morri mesmo?
E meu sorriso antes tão aberto se fechava em dores, principalmente do passado.
Malditas frases que me chicoteavam.
E por me ferirem, acabava respondendo para exorcizar essa dor.
De repente, a força cessou.
Não lembro como, não sei porque.
E eu tinha tanto medo de acordar, só ver o breu e sentir o cheiro de solidão
que gritava por você, para me ajudar, para não me deixar sozinha ali.
sem saber que não precisava nem gritar
só segurar a sua mão.
Era só deixar você cuidar de mim.
Fechei os olhos e quando abri novamente
já não era a mesma
me despedi com um adeus doído e necessário
e me senti “bem vinda”
após abrir todas aquelas janelas,
ver que era dia
e que o sol ainda vinha...
no meu jardim florido de domingo.