segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Boa Vinda.




"Foi na terça e na quinta-feira"
A pressa à margem do cheiro ruim
se deixa correr disfarçada de ar gelado
nos desenhos bonitos das estrelas voadoras
refletidas no rio, no vidro, no espelho.
Um lugar que de tanto existir
hoje já parei de imaginar.
Te assustei no início com tamanha indiferença
e me recusava a entender imensa adoração.
Ninguém é capaz de amar só pelas palavras
e foi assim que desisti de não te gostar.
Meu muro feito de mar salgado, assim como seu exílio,
se desfez quando eu soube o que você cantava.
Você pede benção e se assume alegria da casa...
Pois eu também peço a minha e faço a sua poesia
anfitriã do nosso lar.

domingo, 14 de agosto de 2011

Porque és tu.



Não sei a melodia que tocas no teu violão surrado, nem imagino o que passa por entre teus dedos vivos ao tocar nas cordas. Não faço ideia da partitura que crias ao me ver e nem procuro descobrir se fechas os olhos no meio de uma canção.
Não sei se tu preferes me (re)conhecer através de meus escritos tortos ou a partir de meus olhos protegidos.
Eu sei compreender o que tu falas, pois aprendi a respeitar teus pensamentos. Me surpreendo quando descubro um homem mais bonito do que aparentas ser. Meu medo de parecer infantil diante de semblantes duros ainda desperta um susto escondido quando não te vejo.
Ao mesmo tempo, tu falas com carinho frases que acalmam sem eu pedir. Falas que afloram uma sensualidade natural e uma força invejável.
És, hoje, o motivo de minhas dúvidas corriqueiras e minhas vontades absurdas de sonhar alto e realizar plano.
Tua voz, quando realmente presente, é o descanso em forma de sono acordado.
És o repouso e a felicidade de uma "volta pra casa".

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Agradar





Ela não o esperava numa quinta à noite, apesar de estar de férias, e, apesar de ser inverno, ela estava de camiseta rasgada na gola com o ombro à mostra, mas ele veio com surpresa e frases simples: “Ta em casa? To indo praí.”
Perdeu a vergonha de ser desleixada, com o cabelo amarrado num coque nada firme e a franja oleosa caída sob as lentes engorduradas. Encontrava-se com os pés na mesa do centro e o telefone do lado, o que revelava uma imobilidade preguiçosa desde que ele anunciara sua visita.
“Desculpe, nem me arrumei para te ver.” Ela disse com os olhos para cima, passando a mão no cabelo e se ajeitando no sofá.
“Você fica bonita com roupa de ficar em casa.” Ele disse dando um beijo de “boa noite”.
Ele sentou e arrancou o tênis, nos pés, meia-social preta.
“Veio direto?”
“Só passei em casa para tirar a gravata”
Ela o olhou com um sorriso de lado que representava uma expressão “Eu podia fazer isso pra você”. Ele entendeu, visto que deitou ao seu lado de bruços com rapidez. Quando fazia isso é porque queria um carinho.
Ela mexia os dedos e escutava as unhas deslizarem pelas costas dele, enquanto na outra mão segurava um livro grosso, lia atentamente, apesar da aparente fraqueza nos olhos. De repente, a mão da massagem parou.
Ele levantou a cabeça e percebeu o cansaço em forma de sono bom. Ergueu o corpo e a segurou. Acordando, resmungou: “Ain, dormi!” e ele, só com gestos, a colocou junto de si, como quem abraça.
Ela não ousou recusar o colo.
Depois de um tempo, ele olhou o celular e a acordou: “Preciso ir embora.”
Ela tinha uma mania de agradecer por tudo. Agradecia pelo sorvete que ele comprava, pela companhia no cinema, por erguê-la durante o show para tirar foto...e para não perder o costume, exclamou: “Obrigada.”
Sobrancelhas franzidas, ele retrucou: “Não é pra agradecer pelo colo, mas que coisa! Pára com isso, você é minha namorada.”
Ela sorriu, sonolenta e paciente: “Ué, e quem disse que eu to agradecendo pelo colo?”
Os dois riram, se beijaram e se despediram.

With a love like that
You know you should be glad