sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Female.



Eu peço carona de calça jeans rasgada
e ando a pé com a mochila pesada.
Meu cabelo é curto,
meus cílios também.
O sol não ilumina meus passos,
ele cega a minha miopia.
Meu suor molha
a caixa registradora
e a literatura
é o banho de todas as noites.
A pureza é alta,
mas a santidade é baixa.
O explícito não tem graça
e a lingerie
não é vermelha.
Eu provo o meu amor
ao arrepiar os cabelos da sua nuca.
A arte de dançar com as pernas
vai além da pista suja.
Meu sono é feio
e a beleza esta nos olhos...
ABERTOS.

sábado, 23 de agosto de 2008

Estrada da vida


Vestiu o vestido que tinha bolsos. Sentiu-se protegida, poderia levar sua casa naqueles bolsos sem utilizar as mãos. Bolso na vestimenta era a prova de que não gostava de chamar atenção.

Foi até o lago, no meio do caminho, encheu os bolsos de pedras.

Nunca ia até lá, o lugar não trazia as melhores recordações. Lembro que foi lá que a vi chorar pela primeira vez.

Com os bolsos cheios e a alma vazia, ela mergulhou.

Ao fechar os olhos, a água abundante era o amante que ela nunca teve. O vestido levantara, suas roupas de baixo mostravam a vontade que ela possuía de ser descoberta.

As mãos dançavam sem intenção alguma, justo ela, que calculava tanto seus gestos...

Os sapatos grossos e pretos não saíram do pé, se o caminho até o paraíso fosse cheio de pedras, ela as chutaria.

E assim, minha amiga se sentiu livre.

Uma vez, perguntei a ela o por quê de nunca soltar os cabelos, eram tão compridos...

Ela afastou os fios dos olhos e respondeu:

- Eles são pesados demais.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Quem é você?



Quem foi você?
Não quero ler seus escritos,
te conhecer pelas linhas estudadas,
admirar suas capas desenhadas
ou ouvir elogios de seus amigos.
Me encontre na escadaria nobre,
deixe-me ver seus olhos curiosos
por trás das lentes famosas.
Desconhecido,
suas amantes não te definem.
Por você,
tento amar intransitivamente.
Posso ser desvairada,
se me mostrar seu caráter.
Mexa seus pés
e me tire para dançar
os primeiros ritmos
que tanto sabes.
Meu moderno cavalheiro,
a paulicéia é louca,
apressada, encantadora.
A lua se esconde
atrás de outra modernidade.
No centro paulistano,
ouço seus passos literários
nas escadas dos meus sonhos.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Busca.



Severina,
não se conforme com a morte,
sai logo desse Norte
e vai viver uma vida.
Encontre Fabiano
do outro lado,
ele está com seus meninos,
calado.
Vai com ele,
que a Vitória
vai logo em seguida.
O Brasil é grande,
mas a fé também é.
A estrada não acabou,
não seja um José.
Aos quinze anos,
a vida tem pressa.
A água cai discreta
e se você não correr,
pode se afogar.
O sonho alimenta,
mas para comer,
é preciso, antes de tudo,
arrumar a mesa.

Agosto/2008