terça-feira, 24 de junho de 2008

Mutação



Coloco minha calça de ginástica preta,

meu moleton amarelo

e meu lenço azul.

Com uma vassoura na mão,

varro um chão sujo de incertezas,

acumuladas,

que carecem de atenção.

Aquela caneta,

que eu escrevi minhas melhores poesias,

eu esqueci debaixo da cama,

ela não pega mais.

Eu achei uma lagartixa na minha mochila

e num instante

quase a matei.

Se fossem outros tempos, tentaria afogá-la.

Pela primeira vez, eu vejo nuvens e não telhados.

“Prefiro não ter janela”

E a cama me chama para ficar mais um pouco.

É nela que se faz as melhores coisas.

Termino a faxina,

Coloco a melhor camisola,

Meus brincos de brilhante

E o perfume de flores de varanda.

E a lagartixa,

Vira camaleão.


Junho/2008.

5 comentários:

Anônimo disse...

há anos não leio/ouço/degusto a palavra camaleão. hahaha

e quanto à imagem... vale mais que infinitas rugas de sorriso.

Unknown disse...

Já te disse e repito que esse com certeza é um dos melhores, senão o melhor de todos os poemas que você já me mostrou!

A imagem é infinitamente bela; as metáforas têm uma sensualidade bonita; a forma como vc encarou a "metamorfose" entrando de frente, com a visão de uma mulher forte "limpando a casa pra jogar fora os cacarecos velhos", e não a velha imagem da garotinha confusa é sensacional.
É bacana a parte que se vê uma incerteza residual da 'garotinha confusa' no conjunto de versos "e num instante / quase a matei. / Se fossem outros tempos, tentaria afogá-la", mas é só um lapso, eliminado pelo novo ímpeto curioso de sentir o vento na cara e mergulhar de cabeça na metamorfose. É um sinal de que toda borboleta ainda tem uma fragilidade de lagarta.

Sério... GENIAL!
Gostei muito mesmo, e pode esperar que eu vou mandar uma das tradicionais respostas poéticas. Vou caprichar dessa vez, pq merece. Se tudo der certo eu até pego a resposta e posto no meu blog, oferecido a vc. hahauha

mas isso eu faço depois; o trabalho me chama.

Bjo bjo, minha flor letrista!

ps. - só uma dica: no penúltimo verso, tira o "E" do começo, pro comentário final entrar como uma amarração imagética das idéias, e não mais uma imagem enumerada entre as anteriores. Tirando a conjunção aditiva vc valoriza mais essa última imagem, que é de longe a mais foda do poema todo.
Ah, e uma correçãozinha pentelha: nesse mesmo verso, tira a vírgula do final, pois não se separa com vírgula sujeito de verbo. huahahhaa

Natália Sanches disse...

André,

até parece que vc não sabe o amor que eu sinto pelas vírgulas.

Natália Sanches disse...

Amor que não segue regras...

muito menos gramaticais.

Unknown disse...

"GrAMAtical"

Fujamos das vírgulas!
Não preciso de pausas
Nem de nada que nos isole
Do nosso verbo principal: amar.

Quero palavras desenfreadas
Cantando nossa paixão
De perder o fôlego
E atropelar o sentido de qualquer frase.

Aspausassoserevempraseparar
eEuquerosercomvoceumacoisasó.
Nós.

Desviemos da desvigorada vaguidão da vírgula!