domingo, 23 de dezembro de 2012

Transição



Escher - Entropia
Quando as músicas já são esquecidas

e o silêncio da dúvida recai sobre o coração

não adianta traduzir as palavras de uma alma

que, perdida, resolve se entregar sem razão.

É um costume engraçado esse

De se acostumar, de não falar, de esconder.

Eu podia ter medo de muita coisa,

Mas não sou medrosa a ponto de enganar.

Mesmo se sofrer.

É possível, após tanto sofrimento, confiar nesse futuro?

Perguntava-me antes do beijo noturno existente nos meus sonhos.

Cadê minha casa bonita? Minha família reunida? O meu amor?

Este futuro nunca deixou de ser baseado no passado

Cheio de tempos inversos e palavras não ditas.

Oposto do que eu era. Amando o que não sou.

É hora da transição.

É preciso voltar pra casa antes de dizer não.

Depois de pedir a explicação de suas palavras

não posso me considerar mais um espelho para você.

E assim, me entristeço

Por ver um amor tão bonito acabado

Ou ver que nesse tempo todo

Só pensei ter amado.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Não é o infinito.



Afirmar o fim da escrita para quem escreve
é como negar a incompletude da vida.
Voltar a expor meus sentimentos aqui
é perceber como senti falta de mim.
Tempos inconstantes te dão bagagem,
mas só o que fica registrado é verdadeiro
por isso não te apago com o toque dos dedos.
Meu caos toma forma, meu coração se fecha
e o passado assombra como lua cheia.
Ninguém consegue dormir sem
saudade, dúvida ou cansaço.
E eu, sozinha no meu quarto,
procuro algum retrato
que você não me deu.
Não. Nada.
Mas hoje eu acordei em paz
aquela que aparece no espaço entre o silêncio e a resposta,
pois o vento anunciou minhas convicções finitas
e me lembrou de uma época de travessia.
Enveredar-se pela vida deve ser isso
Sou eu
És tu
e, do outro lado,
Seremos nós.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Vou parar de escrever.



          Uma vez eu aprendi que quem escreve é porque está cheio de ausências, até quem escreve coisas belas. Não acreditei, pois foi uma coisa acadêmica, anotei no caderno como uma maneira de colocar em prática quando analisasse aquele verso mal colocado ou a vida de algum gênio infeliz. 
         Porém, depois de passar muito tempo sem escrever, eu pude perceber a minha vida sem ausências. Se escrevo agora é porque não posso caminhar, é noite, está frio e quem eu quero está ocupado. Me contento com algum telefonema e com a raiva mediante a incapacidade de me mover. 
        Já pensei em fazer disso um ofício, viver para tentar exprimir o que eu sentia através de palavras bem colocadas, mas desisti quando notei que elas eram idênticas e cansativas. Escrevia para poder falar o que não tinha coragem ou eternizar esses sentimentos escapáveis e sofríveis no final de cada feriado. Agora, posso ainda não falar tudo o que desejo, mas faço o que posso. 
       Ainda não tenho o que eu quero, é verdade e essa ausência não será preenchida tão facilmente porque não depende de mim, depende de um tempo e de um esforço de alguém que não quer tirar férias... mas não escrevo sobre isso, converso e deixo o diálogo sincero tomar conta de uma angústia disfarçada de rimas sem ritmo. 
      Noites preenchidas com calor de verdade, mãos entrelaçadas fortemente, mesmo sonolentas, medos e apertos que se colocados em um papel, formariam literatura nobre. Dias cheios de fumaça misturada com sol, pressa escorregadia, pulseiras trocadas como as palavras mínimas de dois amigos na lanchonete. Há tempo para olhar rápido, mas quem vê rápido não repara e assim, muitos amores vão embora entre falta de atenção e assentos preferenciais. Ausência? Nenhuma. Não se escreve mais sobre isso ou se escreve até demais e essa ausência é esquecida com o final de semana. Descansar é preciso, dormir não é preciso, escrever menos ainda. 
     Não escreverei mais com frequência, como uma necessidade absurda de demonstrar algo que eu tento saber o que é e que mesmo depois do texto completo, não há metade da vontade nas entrelinhas, mas não vou porque me entreguei a esse mundo cruel que suga os sentimentos e faz você se transformar em um robô, ou um gado, ou um alienado e tudo mais. Não é pura felicidade exacerbada ou simples falta do que falar.        
     Ainda questiono, ainda sinto, ainda choro, ainda vivo.
     Vou parar de escrever porque aprendi, sem a parte acadêmica, que minhas ausências desapareceram como as minhas lembranças e só voltarei a escrever quando eu achar que vale a pena ou quando eu achar que tudo não passa de um grande sonho.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

As nossas vidas.




Será que a vida é isso mesmo?
Nos encontramos no trabalho
e conversamos sobre nossos amores
seu choro aparece fraquinho como quem diz
“é, ainda dói um pouquinho”
e eu te olho e sinto
“você precisa disso”.
Uma pausa na semana agitada entre choros, trânsito e cansaço.

Ninguém explica amizade verdadeira em pouco tempo
São almas que internalizam os mesmos desejos
A mão que abraça é a que te levanta
e assim, o tempo envelhece nossos sentidos.

Temos a música a nosso favor
o fôlego cotidiano no ar precoce
a imaginação na vontade acumulada
e a possível responsabilidade retorcida
No fim,
temos só a história
ou a saudade vivida

O que falta no outro infernal
sobra quando os olhos deixam de ser dedos
e o passar das horas deixa de ser obrigação

Afinal de contas,
a vida da gente é simbolizada
pela sala de café escura no meio de janeiro
a mesma sala que nos uniu como protagonistas
de um caminho cheio de verdades, emoções
e amor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O meu canto daqui





Me desfaço entre teclas e passos a caminho de uma distração qualquer
A cidade está em festa e as ruas andam coloridas e barulhentas
Todo o sol guardado para abençoar uma terra cinza
todas as pernas expostas para deixar a paisagem bonita.
Absorta, deixo-me correr entre os carros
na tentativa de me fazer notar.
Mas nada me impede de chegar.
As pessoas reclamam da luz ainda acesa,
os quatrocentões relembram a época em que “a música era boa”
e eu choro por saber que uma hora o filme vai terminar.
Ou melhor,
que a segunda voz não canta alto o suficiente pra te acompanhar.
Me transporto para um tempo em que o sofrido fazia samba
e os bondes cansavam de tanto “trabalhar”
Um casal em preto e branco
um piano e um sorriso
e eu me perguntando:
“foi lá? É ainda lá?”
Minha parceria é com a calçada larga
compomos a sinfonia da razão
a música do sentido.
Sempre em frente.
Mesmo com a manifestação te chamando
indignada
indefesa
mas presente.
Penso que a calçada é cama
assim como teu chão já foi a nossa.
Recebo a primeira gota dos céus
no meu olhar de vidro
E deixo minha dor ser lavada,
mas ela não fica limpa.
Isenta de sensações
me despeço com um olhar agradecido
e com mãos cansadas
por eu mesma me abraçar.
Nunca vi um sabiá em São Paulo
mas ela é o meu lugar.