sexta-feira, 15 de junho de 2012

Vou parar de escrever.



          Uma vez eu aprendi que quem escreve é porque está cheio de ausências, até quem escreve coisas belas. Não acreditei, pois foi uma coisa acadêmica, anotei no caderno como uma maneira de colocar em prática quando analisasse aquele verso mal colocado ou a vida de algum gênio infeliz. 
         Porém, depois de passar muito tempo sem escrever, eu pude perceber a minha vida sem ausências. Se escrevo agora é porque não posso caminhar, é noite, está frio e quem eu quero está ocupado. Me contento com algum telefonema e com a raiva mediante a incapacidade de me mover. 
        Já pensei em fazer disso um ofício, viver para tentar exprimir o que eu sentia através de palavras bem colocadas, mas desisti quando notei que elas eram idênticas e cansativas. Escrevia para poder falar o que não tinha coragem ou eternizar esses sentimentos escapáveis e sofríveis no final de cada feriado. Agora, posso ainda não falar tudo o que desejo, mas faço o que posso. 
       Ainda não tenho o que eu quero, é verdade e essa ausência não será preenchida tão facilmente porque não depende de mim, depende de um tempo e de um esforço de alguém que não quer tirar férias... mas não escrevo sobre isso, converso e deixo o diálogo sincero tomar conta de uma angústia disfarçada de rimas sem ritmo. 
      Noites preenchidas com calor de verdade, mãos entrelaçadas fortemente, mesmo sonolentas, medos e apertos que se colocados em um papel, formariam literatura nobre. Dias cheios de fumaça misturada com sol, pressa escorregadia, pulseiras trocadas como as palavras mínimas de dois amigos na lanchonete. Há tempo para olhar rápido, mas quem vê rápido não repara e assim, muitos amores vão embora entre falta de atenção e assentos preferenciais. Ausência? Nenhuma. Não se escreve mais sobre isso ou se escreve até demais e essa ausência é esquecida com o final de semana. Descansar é preciso, dormir não é preciso, escrever menos ainda. 
     Não escreverei mais com frequência, como uma necessidade absurda de demonstrar algo que eu tento saber o que é e que mesmo depois do texto completo, não há metade da vontade nas entrelinhas, mas não vou porque me entreguei a esse mundo cruel que suga os sentimentos e faz você se transformar em um robô, ou um gado, ou um alienado e tudo mais. Não é pura felicidade exacerbada ou simples falta do que falar.        
     Ainda questiono, ainda sinto, ainda choro, ainda vivo.
     Vou parar de escrever porque aprendi, sem a parte acadêmica, que minhas ausências desapareceram como as minhas lembranças e só voltarei a escrever quando eu achar que vale a pena ou quando eu achar que tudo não passa de um grande sonho.

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