quarta-feira, 20 de abril de 2011

Tempos de escola.




A minha escola era até um pouco parecida com essas de filme americano, mas não tinha líderes de torcida. Tinha time de futebol, mas ninguém levava muito a sério. Uma vez me chamaram para fazer parte do time de handball e eu fiquei realmente empolgada, mas minha mãe vetou qualquer possibilidade quando soube que os jogos eram no horário das aulas. Não fiquei com grandes traumas, mas hoje me pergunto porque não gosto de ver jogos de handball pela TV.
Me vetar do time de handball não me ajudou tanto assim nas notas. Nunca fui a aluna menos inteligente da sala, eu sempre conseguia passar raspando, ou ficava de recuperação por dois décimos e me passavam, mas isso só nas matéria de cálculo. Lembro-me uma vez que eu tinha faltado na aula por estar doente e recebi uma ligação de uma amiga falando que fui a única do segundo ano a tirar 10 na redação sobre “A Ilha das flores” e, pra você pode ser bem idiota isso, mas pra mim foi demais. Na semana seguinte, minha professora veio me falar que fui a única que tirei 10 na prova de literatura e me senti mais feliz ainda. Ganhei o ano com isso, aliás, mas só era “boa” nisso também, o que não me ajudava como um todo em todos os anos de colégio.
A minha escola era enorme, mas tinha uma biblioteca pequena e eu não me lembro de nenhuma vez ter visitado o laboratório. A sala da diretora era cheirosa e eu fui pra lá uma vez quando risquei a porta brincando de jogo da velha. Fizeram o maior alarde falando que eu ia pintar a porta, pagar a tinta e o escambal. A única coisa que eu pintei até hoje foi a parede do meu quarto quando eu fui morar sozinha. Aliás, eu era a maior medrosa, era só a professora levantar um pouquinho a voz que ficava dura na cadeira, mas isso não impedia de passar bilhetes do tipo “escreva uma frase com 5 palavras e continue a história”. Esse era o “SMS” da época.
A minha escola era branca e azul. Os azulejos eram bem limpos e as carteiras tinham um estofadinho. Eu nunca entendi aquele estofadinho até ir para o terceiro ano e passar quase 10 horas sentado nele resolvendo exercícios de vestibular com mais 150 pessoas.
Eu tinha 10 anos quando comecei a usar óculos, 13 quando escrevi minha primeira poesia, 14 anos quando comecei a usar aparelho, 15 anos quando comecei a gostar de Legião Urbana e 17 quando passei no vestibular pela primeira vez. Minhas roupas eram monocromáticas e meus tênis possuíam cadarços florescentes. Minha maior alegria era ir ao shopping de sexta e comer pizza aos sábados.
A minha escola era localizada num dos melhores bairros da cidade, tinha padaria nobre perto, shopping bem equipado quase na esquina e restaurantes baratos em época de vacas magras. A torta dois amores verão me fez engordar uns 6 kilos e o uniforme preto e branco me fazia emagrecer uns 3.
Eu nunca fui namoradeira, aliás, eu não tinha tanta beleza pra tanto e gostava de um menino que só queria ser meu amigo. Típico da idade. Hoje esse mesmo menino já tentou ficar comigo várias vezes mesmo nas circunstâncias erradas. Chegamos a dividir o mesmo copo de cerveja na faculdade, eu fui ouvinte de burradas que ele cometia e ele foi meu abraço de saudade de casa por muitas vezes. Aquele encanto adolescente foi embora, mas a amizade continua a mesma e ele continua sendo lindo, apesar dos kilos a mais.
Hoje me pergunto como estão os professores, a diretoria, os inspetores, a bibliotecária, o pessoal do fundão, os inteligentes, as patricinhas (que eram muitas). Todos se surpreenderiam (ou não) por saber onde estou hoje e como estou, mas prefiro que não saibam, a timidez colegial ainda não saiu completamente de mim.
Gostaria de voltar só para sentar na quadra em um dia de sol e conversar sobre as incertezas de um futuro que parecia não chegar, mas agora já chegou e passa rápido demais.
Ser professora depois de ter sido aluna durante um bom tempo me dá uma certa saudade de saber que sobrevivi e uma certa agonia por saber que o tempo não anda tão generoso comigo.
O que me salva é saber que ainda posso compartilhar certas lembranças com os amigos que ficaram e que apesar de poucos, fazem esse passado todo fazer algum sentido. Por causa dessas lembranças, resolvi não sair desse universo, só mudar de lado.
Bem ou mal, vai depender da nota da redação.

2 comentários:

Unknown disse...

LINDO o texto...o conteúdo...mas principalmente o modo como você escreveu.
Compartilho certos sentimentos em relação à escola com você. Salve o Positivo!Salve nosso tempo de escola!

Vinicius disse...

Parece que a ameaça de "pagar a tinta e o escambal" é um instrumento pedagógico bem difundido no país. Lembro de episódios assim por aqui.