sábado, 23 de agosto de 2008

Estrada da vida


Vestiu o vestido que tinha bolsos. Sentiu-se protegida, poderia levar sua casa naqueles bolsos sem utilizar as mãos. Bolso na vestimenta era a prova de que não gostava de chamar atenção.

Foi até o lago, no meio do caminho, encheu os bolsos de pedras.

Nunca ia até lá, o lugar não trazia as melhores recordações. Lembro que foi lá que a vi chorar pela primeira vez.

Com os bolsos cheios e a alma vazia, ela mergulhou.

Ao fechar os olhos, a água abundante era o amante que ela nunca teve. O vestido levantara, suas roupas de baixo mostravam a vontade que ela possuía de ser descoberta.

As mãos dançavam sem intenção alguma, justo ela, que calculava tanto seus gestos...

Os sapatos grossos e pretos não saíram do pé, se o caminho até o paraíso fosse cheio de pedras, ela as chutaria.

E assim, minha amiga se sentiu livre.

Uma vez, perguntei a ela o por quê de nunca soltar os cabelos, eram tão compridos...

Ela afastou os fios dos olhos e respondeu:

- Eles são pesados demais.

2 comentários:

Vinícius Morto disse...

Cada vez melhor hein!
Quando sair o livro vou querer um autógrafo!
ahuahuahua

Unknown disse...

"Ao fechar os olhos, a água abundante era o amante que ela nunca teve. O vestido levantara, suas roupas de baixo mostravam a vontade que ela possuía de ser descoberta.

As mãos dançavam sem intenção alguma, justo ela, que calculava tanto seus gestos..."

O erotismo é tão sutil na sua escrita...
Eu faria alguma crítica construtiva se fosse possível, mas o texto já tá lapidado e, diga-se de passagem, é um belo diamante!

Falando em pedras...
Eu sei que a o caminho é difícil
e fazer uma viagem tão longa
sem nunca ter vontade de dar uma parada
pra esticar as pernas
não é tarefa fácil.
Mas eu prometo:
farei o possível pra chutar todos os pedregulhos
pra bem longe do seu caminho. Esqueça os sapatos grossos e pretos.
Amarrar os cadarços dá muito trabalho
E a gente esquece como é sentir o chão.

Nossa jornada será de pés nus
num chão de terra úmida e folhas secas.
E eu estarei sempre junto,
lavando o pó de seus pés
descalços,
só para vê-los sujar de novo.

Se o cabelo pesa, a gente corta,
e num novo penteado, sem qualquer receio,
mergulharemos de cabeça
onde der na telha.

As pedras que saiam de lá!
Minha cabeça é dura
e a queda...
A queda é longa!
Feche os olhos,
segure minha mão

e PULE!